Anton Tchékhov: drama, tempo e crise

Autor: Nascimento, Rodrigo Alves do
Jazyk: portugalština
Rok vydání: 2019
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Druh dokumentu: Tese de Doutorado
Popis: Esta tese se propõe a uma análise de como o tempo se instala na dramaturgia de Anton Tchékhov. Nas peças longas do dramaturgo, seus personagens são colocados diante de um cenário de profunda crise histórica, ideológica e familiar, que os leva a uma constante reflexão sobre o sentido de sua experiência temporal. Com frequência refletem sobre seu presente vazio de sentido e o comparam às lembranças do passado ou às expectativas de futuro. No entanto, seus discursos raramente se sintonizam e cada um parece habitar uma temporalidade distinta, de modo que o efeito final é o de um movimento dramático centrífugo e dispersivo. Assim, ao povoar suas peças com uma multiplicidade de experiências temporais ligadas à espera, ao tédio, à memória, à melancolia, aos desejos, à recusa, aos sonhos e utopias, o dramaturgo rompe com o presente absoluto do drama tradicional, que se baseava no diálogo intersubjetivo e na ação decidida dos personagens em um presente estável. Por meio da análise de peças como Platónov, Ivánov, A Gaivota, Tio Vânia, mas, principalmente, de As Três Irmãs e O Jardim das Cerejeiras, pretende-se demonstrar como desestabilização desse presente absoluto e a instalação dessa multiplicidade de temporalidades se articulam em torno de uma ironia dramática que impede que determinadas experiências temporais se sobreponham às demais. Tal ironia, feita de diálogos e acontecimentos dramáticos de outro tipo, soma-se à introdução de pausas, silêncios e momentos de estase, que abrem o drama à expressão de experiências temporais então já em franca experimentação na poesia e no romance modernos. O conjunto revela a complexidade da experiência temporal da província russa em um período de crise, ao mesmo tempo em que põe em xeque a sincronização temporal que, na modernidade burguesa, homogeneizou experiências temporais muito distintas. Ao fazê-lo, a obra não se acomoda à uma temporalidade de crise de fim de século e se abre de modo radical, transformado a multiplicidade temporal instalada na forma em dispositivo para a acomodação de temporalidades futuras o que contribui de modo decisivo para que Tchékhov se torne mais atualizável nas diferentes épocas e culturas.
This dissertation analyses how time is settled in Anton Chekhov\'s dramaturgy. In his major plays, his characters are set against a backdrop of deep historical, ideological, and family crisis that leads them to a constant reflection on the meaning of his temporal experience. They often discuss their meaninglessness present and compare it to memories of the past or expectations of the future. However, their speeches rarely tune in and each seems to inhabit a distinct temporality, so the final effect is that of a centrifugal and dispersive dramatic movement. Thus, by populating his plays with a multitude of temporal experiences linked to waiting, boredom, memory, melancholy, desires, refusal, dreams and utopias, the playwright breaks with the \"absolute present\" of traditional drama, which it was based on intersubjective dialogue and the decisive action of the characters in a stable present. Through the analysis of plays such as Platonov, Ivanov, The Seagull, Uncle Vanya, but mainly The Three Sisters and The Cherry Orchard, we intend to demonstrate how destabilization of this absolute present and the settlement of this multiplicity of temporalities are articulated in several ways by a dramatic irony that prevents certain temporal experiences from overlapping each other. Such irony, made of dialogues and dramatic events of another kind, is connected to the introduction of pauses, silences and moments of stasis, which open the drama to the expression of temporal experiences then already in frank experimentation in modern poetry and novel. The whole of the work reveals the complexity of the Russian province\'s temporal experience in a period of crisis, while at the same time calls into question the temporal synchronization that, in bourgeois modernity, has homogenized very different temporal experiences. In so doing, the work does not accommodate itself to an end-of-century crisis temporality and opens up radically, transforming the temporal multiplicity settled in the form into a device for the accommodation of future temporalities - which contributes decisively to that. Chekhov becomes more \"updatable\" in different times and cultures.
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