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A escrita é fundamental para os indivíduos alcançarem sucesso nas suas vidas pessoais, profissionais e sociais. Contudo, esta é uma tarefa complexa que se baseia na articulação coordenada de vários processos. Entre esses, a transcrição (i.e., fluência manuscrita e ortografia) é particularmente importante em escritores jovens. As funções executivas (i.e., controlo inibitório, memória de trabalho e flexibilidade cognitiva) parecem ser também cruciais para que crianças escrevam de forma eficaz. Todavia, a transcrição e as funções executivas não são suficientes para explicar a variabilidade no desempenho da escrita. Investigação recente parece indicar que a atenção plena pode ser outro contributo relevante para a escrita. Esta tese reporta três estudos que examinaram o papel da transcrição, funções executivas, e atenção plena na escrita em crianças em idade escolar. O Estudo 1 examinou as contribuições concorrentes e longitudinais da transcrição e das funções executivas para o desempenho na escrita no 2º ano. A análise concorrente mostrou que apenas a ortografia foi um preditor significativo da escrita. A análise longitudinal mostrou que a fluência manuscrita e a ortografia, juntamente com o desempenho prévio na escrita, foram preditores da escrita. Além disso, a memória de trabalho e o planeamento, medidos no início do ano letivo, também foram preditores significativos. Contudo, essas variáveis apenas explicaram 56% do desempenho na escrita. O Estudo 2 testou a contribuição da atenção plena para o desempenho na escrita no 6º ano, após controlar as variáveis demográficas, transcrição e funções executivas. Os resultados mostraram que a atenção plena, na sua faceta de aceitação, teve uma contribuição única para o desempenho na escrita. O Estudo 3 avaliou os efeitos do treino da atenção plena (vs. relaxamento) em medidas proximais e distais, incluindo de literacia, nos alunos do 3º ano. Os resultados mostraram que o treino da atenção plena melhorou a flexibilidade cognitiva reportada pelos professores e a pontuação compósita das funções executivas baseada no desempenho entre as crianças com melhores resultados no pré-teste. O treino de relaxamento também melhorou a flexibilidade cognitiva baseada no desempenho e a pontuação compósita das funções executivas entre as crianças com resultados mais baixos no pré-teste. Notoriamente, as crianças que receberam o treino de atenção plena tiveram maior fluência manuscrita e melhores notas na disciplina de Português do que aquelas que receberam o treino de relaxamento. De modo geral, estes estudos reforçam a importante contribuição da transcrição e das funções executivas para a escrita. Além disso, proporcionam evidência pioneira sobre o papel da atenção plena como um fator relevante na escrita. |