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A literatura mostra que a sucessão de eventos que ocorre até o momento do término da carreira desportiva, do atleta de alto rendimento, pode ser determinada pelo quanto e como as variáveis de transição e os recursos disponíveis influenciam. Portanto o sucesso ou insucesso de uma transição saudável pode estar ligado diretamente a esses fatores. Estudos com esse viés voltado aos fatores que influenciam na qualidade da transição de carreira são raros na América do Sul, particularmente no Brasil. Portanto, o objetivo principal desta tese é analisar como se comportaram os fatores psicossociais e os recursos disponíveis que influenciaram na qualidade da transição de carreira para fora do desporto de ex-atletas olímpicos brasileiros. Para isso, foi realizado um estudo de revisão sistemática com a finalidade de conhecer o estado da arte sobre o tema, bem como identificar lacunas que pudessem ser exploradas. Em seguida, seguiram-se dois estudos qualitativos que tiveram a finalidade de analisar como se sucedeu a preparação para a retirada atlética, antes do período transitório ou de enfrentamento e durante esse período. Para isso, a amostra intencional foi constituída por dez ex-atletas olímpicos, brasileiros, voluntários, de diversas modalidades, de ambos os sexos e com três anos, no máximo, após terem feito a retirada atlética. A amostra respondeu a uma entrevista semi-estruturada, com 50 itens, baseada no Questionário "Retirement from Sports". Para a análise dos dados foi utilizado o programa NVivo. O estudo de revisão mostrou que estão sendo mais utilizados os métodos de pesquisa qualitativos, transversais, com amostras de ex-atletas e que utilizam, em sua maioria, a entrevista como método de recolha de dados. Além disso, mostra que a identidade atlética, suportes psicossociais e as lesões desportivas já foram amplamente estudados e interferem diretamente na qualidade da transição da carreira atlética. Preocupações com a saúde e a qualidade de vida no pós-carreira e a utilização das habilidades aprendidas fora do ambiente desportivo parecem despontar como novidades. Os dois estudos exploratórios identificaram que, na amostra considerada, mesmo tendo passado por momentos difíceis, de incertezas, tristezas e decisões conturbadas, um mínimo de planejamento e preparação se mostrou suficientes para promover uma transição menos traumática e, por consequência, facilitou a XX inserção em novas funções/atividades, mesmo que ligadas, ainda, ao desporto. Nesse sentido, fez-se a proposta de que não mais se use a expressão "retirada desportiva" para aqueles que permanecem no desporto; mas sim a expressão "retirada atlética" parece atender melhor a esse conceito. Não menos importante, de acordo com esses achados, também foi proposta a inserção do termo "atleta semi-estrategista", no modelo de Vilanova e Puig (2016), como sendo um meio termo entre aqueles atletas que utilizam muito bem as variáveis e os recursos disponíveis e fazem uma ótima transição de carreira (denominados atletas estrategistas), daqueles que não os fazem (os atletas não-estrategistas). Foi visto, também, que a aceitação da realidade e a visão positiva da situação envolvente foram alguns dos aspectos psicológicos que influenciaram positivamente na transição. Além do que estratégias de enfrentamento voltadas à antecipação da retirada, bem como, na preparação para uma nova função devem ser incentivadas tanto pelos integrantes da comissão técnica, quanto pelos gerentes desportivos ligados aos clubes, federações e confederações, e trabalhadas pelos profissionais da Psicologia Desportiva. Por fim, como o tema é complexo e com demandas de muitas áreas de atuação, cresce de importância conhecer melhor como ocorre a retirada atlética de desportistas brasileiros, considerando períodos anteriores, durante e posteriores à transição de carreira. |