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Refletindo sobre as relações entre música e educação no Brasil numa perspectiva de longa duração histórica observa-se na produção dessas relações objetivos notadamente civilizadores. O conteúdo dessa afirmação pode ser verificado na catequização dos gentios, durante a primeira fase do período colonial; nas práticas musicais de negros e mulatos no interior das irmandades católicas de Vila Rica durante os setecentos; e sobretudo, na ambígua relação de encontros e desencontros que se estabeleceu entre música e nação, acentuadamente desde fins do século XIX. Durante esse último período, marcado pelo avanço do processo de urbanização no país e pelo desenvolvimento de pensamentos e de hábitos modernos, a educação escolar desempenhou um relevante papel no objetivo de formar cidadãos em consonância com as transformações pelas quais a sociedade passava. Mais do que oferecer uma educação das mentes, o projeto da escola republicana pretendeu consolidar nas novas gerações, um forte sentimento de brasilidade, caracterizado por princípios morais, estéticos, cívico-patrióticos e até mesmo higiênicos. Destaca-se aqui a ênfase dada a educação das sensibilidades. Assim, o componente estético da educação escolar no Brasil teve como uma de suas principais características a utilização do canto coletivo como estratégia para se transmitir os valores desejados. Nesta tese, pretende-se, portanto, discutir de que maneiras e com que argumentos o canto escolar se estabeleceu enquanto disciplina nos currículos dos ensinos primário e normal em Minas Gerais, durante as primeiras décadas do século XX, tomando como base os debates em torno dessa disciplina e a sua evolução na cidade de Belo Horizonte. Ao mesmo tempo, procurou-se conhecer e analisar uma parte representativa do repertório das canções escolares, relacionando sua temática com o pensamento educacional em curso na época. |