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Esta tese articula duas frentes de investigação da obra do autor japonês Yukio Mishima, partindo daquilo que o crítico e tradutor americano Donald Keene chamou de o problema da individualidade na Literatura japonesa. A primeira relaciona-se com um espaço autobiográfico, conceito proposto por Phillipe Lejeune para se pensar uma imagem do autor através dos diversos textos que compõem sua obra e os distintos pactos de leitura que concorrem para a criação de tal imagem. Os livros Confissões de uma máscara (1948) e Sol e aço (1968) compõem o corpus por meio do qual se investigam modos de construção de imagens da individualidade segundo uma tensão entre a universalização da individualidade através da arte e a adoção de um modelo universal de herói através da ação. A segunda frente consiste na análise da tetralogia do Mar da Fertilidade (1970), da qual o tema da reencarnação constitui o fio condutor entre as quatro narrativas. O tema da reencarnação fornece-nos uma plataforma para a dramatização de algumas concepções imaginárias de individualidade. Nesta investigação sobre os dramas da individuação, fomos conduzidos a um debate sobre a teoria da ficção, ou dos atos ficcionais, de Wolfgang Iser. No caso específico da obra de Mishima, essa teoria permitiu sublinhar as diversas formas de transgressão dos limites da ficção performados na literatura desse escritor japonês. Em nossa leitura da teoria iseriana, o conceito de imaginário adquiriu posição central na compreensão do efeito estético da obra de arte literária. Tal conceito nos permitiu isolar certas matrizes estéticas da obra de Mishima explicitadas no livro Sol e aço, tratado segundo a perspectiva do autorretrato literário de Michel Beaujour. |