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Face à amplitude das perdas coletivas que envolvem os mortos pela pandemia de SARS-CoV-2, este ensaio busca problematizar versões do luto decorrentes das teorias psicanalíticas, em um trajeto de leitura da obra Luto e melancolia, de Sigmund Freud, trazendo à baila críticas realizadas por Allouch (2004). Sustentado em Lacan ([1958/1959] 2002), percorre-se um trilhamento sobre a problemática do luto subjacente à tragédia de Hamlet como tragédia do desejo, posto que articulada à constituição do sujeito, e enfatiza-se a importância dos ritos fúnebres, na tentativa de lançar alguns elementos que possibilitem compreender a elaboração do luto no horizonte de uma perda seca, perda essa amplificada pela pandemia. Trata-se de recolocar no campo social a função do público no luto, conforme Allouch (2004), e destacar o lugar dos rituais para restituir um campo mínimo de significantes que possam, referidos ao campo do Outro, circular o furo no real, permitindo ao sujeito localizar-se e poder dar valor e sentido à sua experiência de dor, articulando um apelo que o tire do impasse e conceda lugar ao ato sacrificial que ponha fim ao luto. |