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Introdução: O gene TP53 é um gene supressor de tumor associado a diversas neoplasias. As síndromes Li-Fraumeni e Li-Fraumeni-like são desordens hereditárias, autossômicas dominantes, complexas, na qual existem mutações germinativas no gene supressor de tumor TP53 (tumor protein p53), e que predispõem seus portadores a diversas malignidades em idade jovem. Até o presente, foram descritas cerca de 3.553 variantes, sendo encontradas 420 famílias com mutações germinativas. Em 90% dos casos são detectadas mutações pontuais. Algumas destas variantes estão intimamente associadas ao desenvolvimento de malignidades e, recentemente vem sendo associada a doenças neurológicas, como o transtorno do espectro autista (TEA). Uma variante do gene TP53 germinativa comumente relatada é a c.215C>G(pro72arg), que apesar de ser classificada como mutação benigna tem sido encontrada em diversos pacientes com câncer. As consequências dessa variante em pacientes leucêmicos são contraditórias, não existindo um consenso sobre esta variante. Caso clínico: Paciente, masculino, 15 anos, portador de autismo e variante germinativa c.215C>G(pro72arg) do gene TP53, desenvolveu leucemia linfoide aguda T (LLA-T) com curso muito agressivo. O paciente foi admitido com massa cervical, adenomegalias, medula óssea hipercelular com 80% de linfoblastos. A imunofenotipagem diagnosticou LLA- near early pre T (nETP-ALL) e os estudos citogenéticos da medula óssea mostraram cariótipo:46,XY[23]/49,XY,inc[4]/65,XXY,+mar,inc[1]. Tratado com protocolo LLA-BFM2009, alocado no braço LLA-T, alto risco, mas teve recaída medular precoce, no meio da consolidação. Nesta ocasião, a recoleta da medula óssea mostrou blastos grandes, intensamente vacuolizados, a imunofenotipagem o mesmo fenótipo e, a citogenética, cariótipo hipotetraploide 81-85XXYY,+mar,inc.ishdel(17p)(TP53x1)[18]/46,XY[2]. O sequenciamento do TP53 do sangue periférico mostrou a variante germinativa c.215C>G(pro72arg). O paciente foi tratado com protocolo BFM-LLA recaída, 2002 e encaminhamento para o transplante de medula óssea, mas teve desfecho fatal por progressão da doença. Discussão: Na literatura há relato de um paciente com TEA e variante gene TP53 (c.733G>A) que apresentou LLA hipodiploide com desfecho fatal. O paciente deste relato portador de TEA e variante germinativa c.215C>G(pro72arg), desenvolveu LLA near early pré T, e um cariótipo evolutivo com clones hiperdiploide, hipotetraploide e deleção do gene TP53, evoluiu com progressão de doença por falha de resposta terapêutica, caracterizando o péssimo prognóstico. Alguns estudos relacionaram a variante c.215C>G(pro72arg) a pior resposta terapêutica em pacientes portadores de leucemia linfoide crônica, a semelhança do relato deste paciente com LLA-T, apesar de haver controversas sobre esta variante em relação a terapêutica e prognóstico desses pacientes. Conclusão: São necessários mais casos descritos para entender o papel da variante TP53 c.215C>G(pro72arg) nos portadores de TEA que desenvolvem leucemia linfoide aguda. |