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Nossa relação com a música é um jogo de representação que começa na consciência dos ritmos biológico-corporais e da natureza, nas aventuras percussivas e experiências sonoras dos hominídeos. Nos primeiros estágios do desenvolvimento humano, a ideia de indivíduo ainda não existia. Vivíamos, da Pré-História à Idade Antiga, sob distintas formas de consciência coletiva, que faziam com que as formas de expressão humanas, incluindo as musicais, surgissem de maneira não individual, mas comunitária. Nesse contexto, o surgimento, na Era Moderna, das metrópoles, com suas multidões e formas de organização social, é marco fundamental na formação do indivíduo e da canção popular, por ele composta e apreciada. Aqui, analiso - por meio da revisão de relatos históricos contextuais e de reflexões gerais acerca dos temas de interesse - o papel das cidades como berço da canção popular moderna no contexto do surgimento do indivíduo, com o objetivo de posicionar a canção como o equivalente musical do conceito de indivíduo como hoje o conhecemos. Nas ruas de Lisboa, Nápoles e Paris entre os séculos XVI e XIX, distintas heranças musicais se fundem sob novas formas de produção de sentido, organização social, política e econômica forjando lundus e modinhas luso-brasileiros, canzones napoletanas e chansons du vaudeville parisiense e, com elas, o indivíduo moderno ocidental. |