A apropriação da Ilíada na epopeia virgiliana

Autor: Paulo Sérgio de Vasconcellos
Jazyk: English<br />Spanish; Castilian<br />French<br />Italian<br />Portuguese
Rok vydání: 2019
Předmět:
Zdroj: Classica, Revista Brasileira de Estudos Clássicos, Vol 32, Iss 1, Pp 165-180 (2019)
Druh dokumentu: article
ISSN: 0103-4316
2176-6436
DOI: 10.24277/classica.v32i1.838
Popis: Desde pelo menos Sérvio e Macróbio (século IV-V), costuma-se ver na estrutura da Eneida de Virgílio uma divisão em duas partes de acordo com o objeto de imitação homérico: a primeira constituiria uma espécie de Odisseia do protagonista Eneias (narrando seus errores, conforme Sérvio); a segunda, que narra gestas bélicas (de bello), sua Ilíada. Tem-se apontado que essa divisão não é estanque, havendo imitação significativa da Ilíada na primeira parte da Eneida e da Odisseia na segunda. Em 1989, num capítulo de seu Virgil’s Augustan epic, Francis Cairns, em oposição à bipartição tradicionalmente aceita pelos estudiosos, defendia que a Eneida é estruturada como uma Odisseia com momentos iliádicos; mais recentemente, em 2012, em seu Virgil’s Homeric lens, Edan Dekel apresentou uma espécie de versão mais refinada dessa interpretação, mostrando como a Ilíada comparece na Eneida mediada pela Odisseia. Neste artigo, voltaremos a essa questão para ressaltar a importância da Ilíada na epopeia virgiliana. De forma sutil (rítmica, sonora, temática), a Ilíada já ecoa na proposição da Eneida, o que é significativo; a ira de Juno ecoa, como os estudiosos têm mostrado, a de Aquiles; ao final da epopeia, intertextualmente, o leitor é levado a projetar sobre Eneias a sombra de um Aquiles raivoso: esses dois momentos-chave nos fazem refletir sobre a importância da Ilíada na apropriação de Homero por Virgílio e é esse aspecto da imitação virgiliana que destacaremos, como uma espécie de contraponto às análises que veem na Odisseia o modelo maior da Eneida.
Databáze: Directory of Open Access Journals