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Este texto é resultado parcial do trabalho de Doutoramento desenvolvido no âmbito da Etnomusicologia a partir de uma pesquisa etnográfica realizada entre os anos de 2009 e 2012 no município de Jacutinga, região Sul do estado brasileiro de Minas Gerais. Tem por objetivo analisar o modo como a música raiz do sul de minas pode ser entendida através da aplicação do conceito de paisagem cantada. Parto do princípio teórico segundo o qual a música raiz no Sul de Minas, enquanto guardiã de uma memória individual e coletiva, é construída a partir da evocação de paisagens imaginadas ao mesmo tempo que é potenciadora da emergência de novas paisagens. Este processo é expresso através da palavra cantada uma vez que no romance –gênero performativo central da música raiz– a poética-narrativa atua como testemunha da história de um universo associado ao modo de vida rural do centro-sudeste brasileiro. Como música raiz entende-se nesse contexto um universo musical que engloba vários “ritmos” –como a moda-de-viola, o pagode-de-viola, a querumana, a guarânia, dentre outros–, performado por uma dupla cantando em dueto com acompanhamento da viola caipira. O termo engloba os segmentos música caipira e música sertaneja no sentido em que, para os protagonistas, as classificações convergem. Assim, a memória é entextualizada na moda –unidade mínima musical de análise– que ao ser performada evoca um catálogo de elementos identificadores de uma cartografia humana, territorial e sonora, associadas a um universo designado por caipira. O sentido de pertencimento e de identificação com este paradigma promove uma recontextualização destes elementos fazendo emergir novas paisagens e novas práticas onde eles são ressignificados, adquirindo, em alguns casos, o estatuto de marcos sonoros, dentre os quais o carro-de-boi, o berrante e o monjolo são exemplos. |