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O entendimento do fenômeno literário, como uma criação estética da linguagem, não significa que essa criação só se possa concretizar-se através da modalidade escrita. O texto oral, etimologicamente carregando o peso de um paradoxo, permaneceu por muito tempo fora do enfoque teórico dos estudos literários, cuja tradição tem privilegiado a escritura como única fonte teorizadora do texto artístico, duvidando “de que a literatura oral tivesse um valor intrínseco e um caráter próprio”, como testemunha Jakobson (1985, p. 22). A partir da década de 70, ampliam-se os espaços de debates sobre literaturas orais e, em 1981 e 1982, durante o salão do livro no Centro George Pompidou, em Paris, esses debates ganham mais consistência. Uma geração de estudiosos do exterior, encabeçada por Paul Zumthor, estudioso da literatura medieval, suíço de nascimento, e de estudiosos do Brasil vem se dedicando ao estudo da literatura oral, resgatando o seu estatuto de texto artístico, antes privilégio exclusivo da escritura. Dessa forma, esses estudos têm podido ressaltar as especificidades inerentes a sua natureza oral, cuja literariedade, como bem elucida Zumthor, acentua em plenitude a função da voz, imprimindo mais força à sua estrutura modal que explora aspectos translinguísticos da comunicação dando ênfase ao ritmo e às sonoridades significativas, ao invés de ressaltar apenas a estrutura textual, legado da escritura. |