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As cidades de Ponta Porã (BR) e Pedro Juan Caballero (PY), separadas por fronteira seca, constituem centros conurbados, limitados por uma longa avenida que acompanha a ocupação humana de ambos os lados. O turismo de compras, importante setor da economia local, fez emergir do lado paraguaio, a partir de 1980, um significativo comércio informal de importados, caracterizado por ambulantes e pequenos comerciantes que instalaram bancas na principal rua comercial da cidade. Na década de 1990, uma crise se abateu sobre a economia de Ponta Porã, fazendo com que alguns comerciantes reivindicassem a instalação de comércio popular semelhante ao paraguaio no lado brasileiro. Com isso, nasceu o Primeiro Shopping Calçadão Mercosul, centro comercial instalado na linha de divisa entre os países, porém em solo brasileiro. Ocupado por lojistas de distintas nacionalidades, o Shopping oferece produtos idênticos aos vendidos no Paraguai e acaba por disputar a mesma clientela, pois se estrutura segundo regras e condições muito semelhantes às do comércio vizinho. Este artigo aborda o modo como está organizado esse comércio, como se regula frente às normatizações públicas brasileiras e como interage com o mercado paraguaio. Da mesma forma, pretende discutir de que maneira as categorias legal e ilegal, lícito e ilícito são articuladas num contexto em que se pratica uma modalidade de comércio permitida apenas no lado paraguaio e como, numa situação de liminaridade, são reafirmadas as representações sobre o “outro”. |