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Introdução/Objetivos: O tratamento de pacientes com leucemia linfoblástica aguda (LLA) é um desafio em países sem acesso aos modernos exames de avaliação de risco citogenético e às drogas de alvo-específico ou aos agentes imunoterápicos. A despeito do debate sobre o uso de terapias com células T modificadas, o manejo de pacientes com LLA ainda é realizado de maneira deficitária em muitos centros. Nesse sentido, esse estudo pretende avaliar as características de pacientes com LLA em um centro de tratamento da região Nordeste. Material e métodos: Trata-se de um estudo retrospectivo, utilizando dados dos internamentos de pacientes na unidade de Hematologia do Hospital Geral de Fortaleza do período de 03/08/2015 a 19/07/2023. Os dados foram expressos em termos de mediana (intervalo interquartil - IQR). Foram utilizados testes não-paramétricos para avaliação de variáveis não pareadas. Para a avaliação de chance de sobrevida foi utilizado o método de Kaplan-Meier, bem como modelo de regressão de Cox. Foram considerados estatisticamente significativos valores de p-valor < 0,05. Resultados: Foram compilados os dados de 53 pacientes no período avaliado. Houve 73,6% de LLA B, das quais 38,4% eram BCR-ABL1 positivo; houve 26,4% de pacientes com LLA T. Houve diferença estatística entre os grupos LLA B e LLA T através do teste de Mann-Whitney nos quesitos idade ao diagnóstico (35 x 26,5); leucócitos totais ao diagnóstico (26700 x 108 800); neutrófilos ao diagnóstico (1764 x 10332); contagem de blastos em sangue periférico (36% x 72%); hemoglobina ao diagnóstico (6,6 x 8,45). A sobrevida foi consideravelmente melhor em pacientes com LLA B em relação aos pacientes com LLA T (p-valor: 0,03). Durante o período avaliado, a maioria dos pacientes com LLA T fez o esquema HYPERCAVD/HDMTX-ARAC; enquanto a maioria do grupo com LLA B fez o esquema CALGB 8811 ou CALGB 9511. Discussão: O tratamento da LLA é complexo e envolve esquemas de quimioterapia em vários ciclos diferentes, com momentos de intensificação na maioria dos protocolos atuais. O uso de novos medicamentos, especialmente em cenário de recaída, tem se mostrado promissor em levar pacientes com o transplante alogênico de células-tronco hematopoiéticas sem doença residual documentada. Há evidências que o esquema HYPERCVAD é menos eficaz em outros centros que no centro original de desenho do protocolo, apesar de análise de chance de sobrevida estratificada por esquema quimioterápico não demonstrar superioridade de um em relação ao outro nos pacientes estudados. Conclusão: Os dados demonstram que pacientes que tiveram diagnóstico de LLA T tiveram pior desfecho em relação aos pacientes com LLA B, seja ela BCRABL1 positivo ou não. Desse modo, é necessário o acesso desses pacientes a novos fármacos utilizados em outras regiões com evidência de resposta nesse tipo de pacientes, bem como acesso ao transplante alogênico de células-tronco hematopoiéticas de modo facilitado, pelo risco elevado de desfecho desfavorável nesse grupo de pacientes. |