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Introdução/Objetivo: Pacientes com leucemia aguda comumente apresentam, em sua evolução natural, complicações infecciosas pulmonares, sendo a broncoscopia uma ferramenta valiosa de acordo com dados mais recentes da literatura. Dito isso, relatamos as indicações, os resultados e as complicações das broncoscopias realizadas durante o tratamento de pacientes com leucemia aguda. Material e métodos: Foi realizada uma análise descritiva com dados obtidos de prontuários de pacientes com leucemia aguda de qualquer fenótipo, que foram submetidos a esquema de quimioterapia intensiva no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, FMUSP, entre os anos de 2012 a 2020. Todos os pacientes que realizaram broncoscopia para investigação de foco infeccioso foram incluídos. Resultados: De um total de 437 pacientes, 47 realizaram broncoscopia. Leucemia mieloide aguda foi a doença mais comum (n = 28, 59,5%), seguida de leucemia linfoblástica aguda ou bifenotípica (n = 17, 36,2%), e de leucemia promielocítica aguda (n = 2, 4,3%). A maior parte dos exames foi realizada na fase de indução (29,8%), seguido de consolidação (21,3%), terapia de resgate/refratariedade (17%), em remissão (17%) e 14,9% antes de iniciar tratamento. A principal indicação da broncoscopia foi investigação de lesão pulmonar em exame de imagem (n = 41, 87,2%). A mediana das plaquetas do procedimento foi de 67.000, e 36,2% dos pacientes apresentavam neutropenia grave ( 0,5) em 3 dos 21 casos. Apenas 6 pacientes realizaram biópsia transbrônquica, as quais se mostraram inconclusivas. Foram descritas complicações do broncoscopia em apenas 4 casos (8%), sendo 2 por sangramento, 1 por piora da oxigenação e 1 por pneumotórax. O procedimento acarretou mudança no manejo clínico em apenas 9 dos 47 pacientes (19,4%), onde foi realizado escalonamento de antibiótico (3), suspensão de antibiótico (3), início ou manutenção de antibiótico/antifúngico (2) e suspensão de antifúngico (1). Discussão: Durante o tratamento das leucemias agudas, é universal a utilização de antimicrobianos de modo empírico. A realização de broncoscopia para investigação de quadros infecciosos, neste cenário, parece ter baixo rendimento diagnóstico, com pequena mudança na conduta médica. Embora limitado pela natureza retrospectiva e unicêntrica, observamos que a positividade e o impacto da broncoscopia se mostraram inferiores aos dados disponíveis na literatura. Isto pode ser justificado por limitações técnicas próprias, como indisponibilidade de todos os testes moleculares e microbiológicos, além de possível imprecisão na solicitação dos exames. No entanto, notou-se uma baixa taxa de complicações a despeito do cenário clínico adverso. Conclusão: O papel da broncoscopia para investigação de infecções pulmonares em pacientes com leucemia aguda é controverso, uma vez que apresenta baixo impacto nas decisões clínicas e baixa taxa de positividade quando realizada no cenário de uso de antimicrobiano empírico. |