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Levando em conta os diagnósticos do movimento pós-moderno na antropologia, este artigo se dedica a pensar estratégias para a realização de trabalho de campo e a subsequente redação de etnografias na contemporaneidade. Para tanto, procura enfrentar as críticas a respeito da autoria e da autoridade etnográficas ao mesmo tempo de modo a encará-las em sua justeza e a não ser paralisado por elas. Busca-se assim reconceber o que se imaginariam ser os contornos de uma hierarquização de outro modo incontornável, por meio da consideração de um tipo de todo que não unifica as partes em questão, a saber, as partes envolvidas numa pesquisa antropológica, em geral pessoas. Em vez de apostar em processos sintéticos de totalização, trata-se aqui de levar em consideração certos todos singulares que podem ser dispostos também como partes interessadas do processo de pesquisa, dispondo-se ao lado e não acima das demais. O trabalho etnográfico surge assim não como algo eminentemente unilateral, mas como envolvendo uma série de prestações específicas. Os dados da pesquisa figuram justamente algo que é dado a alguém, por alguém: pragmaticamente, em circunstâncias que não se pode abstrair a priori. As práticas discursivas e não discursivas de que a pesquisa é feita são assim suscitadas em conversação e troca, podendo ser evocadas, de maneiras distintas, no trabalho de campo e na redação etnográfica. São mobilizados exemplos concretos para o desenvolvimento do argumento, extraídos tanto da literatura acadêmica quanto de pesquisa própria realizada no campo das religiões de matriz africana no Brasil. |