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Este trabalho tem por objetivo discutir a relevância do “romance de costumes” O segredo da morta, de António de Assis Júnior, surgido inicialmente em folhetim, no jornal A Vanguarda, em 1929, e posteriormente publicado em forma de livro pela editora A Lusitânia, em 1934. Formado na tradição do jornalismo, única forma possível de inserção do intelectual na Angola colonial, António de Assis Júnior é considerado pela crítica como o iniciador do romance nesse país. Trazendo como título uma ambiguidade desconcertante, O segredo da morta (romance de costumes angolenses) deixa que a descrição dos costumes e das mazelas da sociedade colonial seja tomada progressivamente pela palavra literária e pela imaginação que ficcionaliza a realidade ao seu redor e serve de fonte reveladora de um crime cometido na cidade, cuja origem se desconhece. O elemento que introduz a fantasia é a presença do sobrenatural, responsável por mesclar os dois mundos, combinando a existência real de uma morte misteriosa com a fábula imaginativa que permite o seu esclarecimento. A voz do além ganha, assim, a dimensão daquilo que podemos nomear de realismo maravilhoso, ou realismo animista, particularidade da ficção africana de um modo geral, conforme nos sugere Pepetela, em Lueji (1989). |