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A viagem de regresso à Gália natal documentada no poema De Reditu Suo de Rutílio Namaciano permitiu-lhe ser testemunha das transformações da paisagem física, humana e social dos inícios do séc. V. O tom digressivo do discurso acompanha a viagem marítima, pontuando a observação visual com comentários reflexivos. Neste artigo, pretendemos seguir o olhar objetivo do discurso rutiliano e analisar as reflexões que o poeta opera acerca do que vê. Pretendemos também fazer um juízo sobre o que parece ser um enigma rutiliano: sendo claramente bom observador, contemporâneo e testemunha privilegiada de eventos marcantes da crise dos inícios do séc. IV, como consegue manter a crença na conservação do status quo que possibilitou a grandeza de Roma? Nos limites do género literário hodoiporético, a obra de Rutílio é um caso de observação comprometida e condicionada pelos factos que se impõem ao seu participante envolvido: o seu discurso balança entre a descrição dos espaços e paisagens e sua apreciação crítica, a partir do horizonte cultural, mas também das espectativas do aristocrata romano, a caminho de uma transformação definitiva de vida. |