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Este artigo mobiliza a chamada “teoria ator-rede” para abordar a tecnologia de ultra-som obstétrico no Rio de Janeiro no início do século XXI como uma tecnologia ‘indispensável’ no acompanhamento pré-natal. Sem almejar compor uma lista exaustiva, o artigo põe em cena um elenco de elementos heterogêneos que agem em justaposição configurando a especificidade da tecnologia estudada, ensejando sua delimitação e nomeação. Os elementos híbridos aqui apresentados – aparelhagem, didatismo, tranqüilidade, oráculo, afetos, prestí- gio, mercado, mídia, patologia, purificação – são configurados e entendidos como agentes ou actantes híbridos que são simultaneamente 1) naturais mas sem formas definidas que estejam lá já previamente dadas para serem ‘simplesmente’ descobertas (formas de “coisas-em-si”); 2) coletivos mas não sociais se a este adjetivo for atribuído o sentido de pertencer a um mundo exclusivo de relações de “humanos-entresi”; e ainda 3) narrados mas não constituídos só pelo discurso. A performance deste trabalho é praticar um primeiro movimento de afastamento da tradição de grandes divisores tomados a priori, predominantes nos últimos séculos nos estudos do conhecimento dito moderno: natureza x sociedade, público x privado, coração x mente, ciência x crença, humano x não-humano, masculino x feminino, macro x micro, local x global. Interessa-nos especialmente que, na medida em que se obtém este afastamento, surgem / co-constroem-se outras paisagens para os estudos CTS (ciência-tecnologia-sociedade) no Brasil – nelas, em linguagem crua, o que existe é o que age, e só entidades híbridas têm a capacidade da ação. O passo seguinte deste trabalho, indicado mas não completado aqui, é estudar os lugares onde se passam as ações que configuram os elementos apresentados e por que meios (veículos materiais) eles se comunicam, articulam e agem uns sobre os outros. |