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Introdução: A infecção pelo vírus da hepatite C (HCV) é um importante problema de saúde associado a uma elevada morbimortalidade. No entanto, entre indivíduos coinfectados pelo HCV e pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), estudos sobre mortalidade por causas não hepáticas demonstraram resultados inconsistentes. Objetivo: Investigar a contribuição da coinfecção HCV e HIV na mortalidade por causas hepáticas e não hepáticas, tendo como base uma coorte de doadores de sangue no Brasil. Método: Trata-se de um estudo de coorte retrospectiva de doadores de sangue de 1994 a 2013, na Fundação Pró-Sangue - Hemocentro de São Paulo (FPS). Esta coorte incluiu 28 indivíduos coinfectados HCV/HIV e 2.487 monoinfectados HCV e todos foram encaminhados a um serviço de referência para realização de tratamento. Os registros do banco de dados da FPS e do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) foram vinculados por meio de um relacionamento probabilístico de dados (linkage). As causas de óbito foram definidas com base nos códigos da CID-10 (10ª Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) listados na declaração de óbito. O Hazard Ratio (HR) foi estimado usando modelos de regressão múltipla de Cox. Resultados: Quando foi avaliado o número de óbitos por grupo, o linkage identificou 12 óbitos entre doadores coinfectados HCV/HIV e 182 entre monoinfectados HCV. Assim, indivíduos coinfectados HCV/HIV tiveram risco 8,5 vezes maior de morrer, por qualquer causa, quando comparados aos monoinfectados HCV (HR = 8,5; IC 95%: 4,7-15,4; p < 0,001). Quando as causas básicas de óbito foram categorizadas, observaram-se que os riscos de óbito por infecções, por complicações da própria hepatite C e por neoplasias não hepáticas foram, respectivamente, 72,4 vezes (HR = 72,4; IC 95%: 30-174,9; p < 0,001), 11,2 vezes (HR = 11,2; IC 95%: 2,6-52,5; p = 0,0012) e 10 vezes (HR = 10; IC 95%: 2,2-41,6; p = 0,002) maiores entre os coinfectados em relação aos monoinfectados. Conclusão: Os dados encontrados sugerem que entre os doadores de sangue coinfectados com HCV/HIV, mesmo após tratamento específico e resposta virológica sustentada, intervenções específicas são urgentes e necessárias, a fim de se evitar complicações hepáticas e não hepáticas e óbito. |