Popis: |
Introdução: A hemofilia é uma doença hereditária, transmitida geneticamente pelo cromossomo X, caracterizada pela deficiência dos fatores de coagulação VIII (Hemofilia A) ou o fator IX (Hemofilia B) circulantes no plasma, que se manifestam quase exclusivamente em indivíduos do sexo masculino. Em 2018, o Brasil (n = 12.653) tinha a quarta maior população mundial de pessoas com hemofilia, sendo a distribuição por faixa etária de 0–5anos (5%) e de 5–12 anos (15%); ficando atrás da Índia (n = 20.778), Estados Unidos (n = 17.757) e China (n = 18.712), sendo a doença de maior prevalência entre as coagulopatias hereditárias. Crianças com hemofilia frequentam serviços de emergência por diversos motivos, incluindo causas pediátricas gerais e problemas específicos decorrentes de sua doença, por isso este serviço constitui um componente indispensável em seu manejo. Objetivo: Descrever as características do atendimento de crianças com hemofilia no serviço de emergência do hospital Hemope. Métodos: Estudo do tipo série de casos, descritivo e retrospectivo. O estudo foi realizado através da coleta de dados secundários de prontuários eletrônicos da instituição. A população do estudo foram 185 crianças com hemofilia, faixa etária de 0 a 12 anos, atendidas no Serviço de Pronto Atendimento, no ano de 2019. A coleta de dados foi realizada no período de outubro a dezembro de 2020 Resultados: 1. Variáveis socio demográficas: Verificamos uma criança do sexo feminino, média de idade 4,1 ± 3,52, faixa etária predominante 0-5 anos (62,5%);cor parda (90%); eram estudantes, com idade escolar condizente com a faixa etária. 2. Variáveis clínicas e tipo de tratamento: A maioria apresentava hemofilia A (90%), tipo grave (83,8%),fazia tratamento profilático (53%) e alta prevalência de anticorpos inibidores (18,8%). 3. Características dos atendimentos: Verificou-se 80 atendimentos no ano, número de atendimentos 1–2 vezes (41%), das 7 às 19h (90%), motivo do atendimento foi sangramentos(86%), provocados por esforço ou trauma (68%). Os principais locais dos sangramentos foram a cavidade oral (30,4%), joelhos (20,3%) e cotovelos (11,6%). Observou-se que quatro crianças foram responsáveis por 26 (32%) dos atendimentos, dos quais uma foi atendida 10 vezes, sendo alertado ao grupo de enfermeiras do ambulatório. 4. Articulação alvo e complicações osteoarticulares: Verificou-se que a maioria não tinha articulação alvo (86%) e complicações osteoarticulares (92,5%). Dentre as crianças que apresentaram complicações osteoarticulares, todas tinham comprometimento no joelho e apenas 1–2 articulações. 5. Tipo de medicação administrada: Verificou-se que a maioria fez uso de fatores de coagulação (66%), anti-hemorrágicos (8,4%) e antibióticos (6,3%). Foram realizados 36% encaminhamentos, os principais foram dentista (36%), fisioterapeuta (12%) e assistente social (9%). Um total 18,2% das crianças necessitaram de internação hospitalar. Discussão: A hemofilia é uma doença que pode diminuir a qualidade de vida dos pacientes desde a infância. As crianças sem tratamento profilático, que apresentam sangramentos musculoesqueléticos de repetição, adquirem limitações físicas e sociais pelas ausências escolares, restrições em brincadeiras e atividades comuns, por consequências da dor e das lesões articulares. Conclusão: Verificamos que o principal motivo dos atendimentos foram os sangramentos na cavidade oral, provocado por esforço ou trauma, sendo administrado o fator de coagulação deficiente. Ressaltamos a importância do acompanhamento ambulatorial multidisciplinar realizado no serviço, que promove redução das complicações osteoarticulares, e consequentemente a melhoria da qualidade de vida das crianças. |