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Sinto vergonha pela minha ingenuidade! Aceitava viver num mundo desigual e elitista, mas protegido para sempre dos terrores da guerra, do total desrespeito pelo Direto Internacional e pelos mais elementares valores da vida humana. Trabalhava diariamente na convicção que a humanidade estava protegida por um conceito crescente de globalização, em que o respeito individual e coletivo era o garante de uma nova ordem mundial, que apesar de não ser generalizada, caminhava inexoravelmente para o ser. Para mim e certamente para a grande maioria da humanidade a verdade, o respeito pelas instituições mundiais, o preceituado pelas leis era algo inquestionável. Mas de um momento para o outro percebemos que tudo não passava de uma mistificação e que todo o relacionamento humano, mesmo ao mais alto nível dos dirigentes mundiais, se mantém ao nível da Idade Média, em o que prevalece é a força bruta, a crueldade e a maldade humana, sustentada apenas na vontade de afirmação e domínio. Para que valeu a pena tanto investir no conhecimento e no desenvolvimento humano, se de um momento para o outro todos dependemos da aleatoriedade do fogo e da adrenalina de quem tem o dedo no gatilho. Esta é a segunda Guerra com que sou confrontado na minha vida de 65 anos, A primeira desvaneceu-se três ou quatro anos de ser recrutado e seria a guerra colonial Portuguesa em África, o que foi uma extraordinária felicidade. Hoje pressinto que esta situação de reaparecimento de dois blocos bélicos mundiais, irá condicionar todo o nosso modo de viver ocidental, em todos os sectores do nosso “dia a dia”. Que papel terá no futuro próximo a investigação e o ensino universitário? Quais as áreas que serão privilegiadas, as ciências médicas, a indústria do armamento, a tecnologia, ou a reconstrução das infraestruturas arrasadas? Na nova ordem mundial que se seguirá a este conflito que papel para o Desporto? Voltará o Desporto a ser um espaço protegido onde se tentará fazer prevalecer a “Paz Olímpica”, ou serão criados os países “párias”? qual a melhor estratégia? voltará o mundo a ser semelhante ao que foi até 23 de fevereiro de 2022, com todas as suas incoerências e exceções, ou este será um momento de clarificação e evolução do ser humano e da humanidade? Daqui deste jardim ao lado do mar plantado, exorto a todos os Gestores Desportivos que não deixem de se assumirem enquanto elementos essenciais da construção da opinião pública das vossas comunidades, seja qual for a vossa convicção, sejamos construtores ativos de um presente que não permite a abstenção de ninguém! |