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Na história da filosofia, diferentes abordagens teóricas e autores discutem a relação entre percepção, interpretação e linguagem, cada um atribuindo diferentes funções interpretativas à observação e à descrição observacional. Um desses autores é N. R. Hanson, cujo enfoque dos processos perceptivo e descritivo se dá de forma interpretativa e subjetiva, reconhecendo o contexto de observação como interpretativamente influente na experiência visual. Embora sua perspectiva tenha sido alvo de muitas críticas, ela tem sido mais amplamente aceita nas últimas décadas, sendo constantemente refinada por teóricos atuais da filosofia da percepção, psicologia e neurociência. Diante da relevância desse tema e autor, meu objetivo é investigar o modo pelo qual Hanson defende que a descrição observacional linguística é moldada tanto pela escolha de palavras quanto pela maneira como percebemos e experimentamos visualmente o mundo. Isto é, buscaremos apresentar como o autor se destaca dos demais ao usar a descrição observacional como uma ferramenta que manifesta tanto a interpretação interna do sujeito e da observação quanto a relacionada à própria construção do enunciado linguístico. Nesse sentido, examinaremos a presença de interpretação na observação através da descrição observacional, detalhando dois grupos interconectados: um que diz respeito à interpretação durante a observação e outro à escolha de palavras para representar a experiência visual. Com isso em mente, consideraremos um experimento mental envolvendo dois personagens da história da filosofia da ciência, Kepler e Tycho Brahe. No experimento mental serão supostas duas descrições observacionais distintas e contraditórias de um mesmo amanhecer, uma de cada personagem. E, a partir desse experimento, exemplificamos como a interpretação se conecta à observação e descrição observacional de acordo com o autor. |