Perturbação do Uso do Álcool
Autor: | Augusto Pinto, Carlos Fontes Ribeiro, Graça Vilar, José Carlos Lázaro, José Aranda da Silva, José Miguel Trigoso, Manuel Cardoso, Mário Castro, Miguel Gouveia, Miguel Vasconcelos, Rui Tato Marinho |
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Jazyk: | English<br />Portuguese |
Rok vydání: | 2016 |
Předmět: | |
Zdroj: | Revista Portuguesa de Farmacoterapia, Vol 8, Iss 1 (2016) |
Druh dokumentu: | article |
ISSN: | 1647-354X 2183-7341 |
DOI: | 10.25756/rpf.v8i1.92 |
Popis: | As perturbações do uso do álcool constituem, pela sua prevalência e transversalidade, um problema de saúde pública grave, com um impacto social e económico significativo, motivos pelos quais importa discutir a necessidade de uma mudança de paradigma na abordagem e tratamento da Perturbação do Uso do Álcool (PUA). A 5ª edição do «Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders» (DSM-V) abandonou a distinção entre consumo nocivo e dependência de álcool, procedendo à sua integração numa designação - PUA. Esta é definida como um padrão de consumo de álcool prejudicial, que conduz a uma debilitação do estado de saúde e a sofrimento clinicamente significativo. O consumo excessivo de álcool representa uma ameaça à saúde pública mundial, constituindo uma das principais causas de mortalidade e morbilidade. Segundo o relatório da OMS, no ano de 2011, o consumo excessivo de álcool foi responsável por 5.9% de todas as mortes globais (cerca de 3.3 milhões de mortes) e por 5.1% da carga global de doença (avaliada em disability-adjusted life years). Na Europa regista-se um dos maiores consumos anuais de álcool per capita (10,9L de álcool puro) em relação à média mundial (6,2L de álcool puro), com Portugal a apresentar um consumo anual de 12,9L. A prevalência de PUA em Portugal no ano de 2010 foi de 5,8%, sendo inferior à média da Região Europeia da OMS (7,5%). Importa salientar que na Europa o consumo de álcool representa o terceiro principal fator de risco de doença e de morte prematura, superado apenas pelo tabagismo e hipertensão arterial. A nível nacional, um estudo realizado com dados de 2005 demonstrou que cerca de 3.8% da mortalidade é atribuível ao consumo de álcool, com maior incidência nos homens (5,6%) do que nas mulheres (1,8%). O álcool é responsável pela ocorrência de um elevado número de patologias e problemas de saúde, verificando-se também uma elevada incidência de anos de vida perdidos em idades mais jovens por acidentes rodoviários. O consumo de álcool encontra-se igualmente associado a danos que afetam tanto o indivíduo que consome como terceiros, havendo evidência de associação entre o consumo de álcool e a prevalência da criminalidade nos diferentes contextos sociais: laboral, viação e familiar. A PUA é uma patologia associada a elevados custos em saúde, tendo sido estimado em Portugal um total de 1916 milhões de euros no âmbito de cuidados de saúde em ambulatório e internamento, por doenças relacionadas com o álcool, no ano de 2005. Não obstante, a percentagem de indivíduos com esta doença que recebe tratamento permanece ainda reduzida, estimando-se que apenas 8% dos doentes com dependência de álcool na Europa são tratados. Uma das principais barreiras ao tratamento é a relutância de muitos doentes se comprometerem com a abstinência, além de que os programas de abstinência apresentam uma reduzida efetividade, com 70% a 80% de recaídas no decurso do primeiro ano após o tratamento. As recomendações recentes sugerem estratégias de intervenção com maior enfoque na redução de consumos de risco e minimização dos problemas relacionados com o uso e abuso de álcool, podendo constituir uma opção válida enquanto alternativa adicional aos programas orientados sobretudo para a abstinência, especialmente quando o prosseguimento do acompanhamento do doente está dependente da continuação do consumo de álcool. Globalmente, a intervenção no consumo nocivo de álcool permitirá melhorar os indicadores nacionais no que diz respeito ao número de anos de vida com saúde, tendo também um impacto social positivo significativo, nomeadamente na diminuição das situações de crime de violência, homicídios, acidentes rodoviários e ferimentos causados sob o efeito do álcool. Importa reforçar que o combate efetivo aos efeitos negativos do consumo excessivo do álcool na sociedade apenas poderá ser feito mediante uma forte aposta na prevenção, nomeadamente junto dos jovens. Por forma a fazer face a este desafio, é necessário capacitar os cuidados de saúde primários para a deteção precoce da PUA e resposta adequada às necessidades dos doentes. Reveste-se de especial importância a implementação de estratégias e políticas abrangentes, com envolvimento do estado, sociedade, profissionais de saúde e doentes. Por outro lado, deve assegurar-se que a disponibilização, venda, acesso e consumo de álcool no mercado seja feita de forma segura e não indutora de consumo de risco e nocivo, através de educação, regulação, regulamentação e fiscalização adequadas. A reunião de reflexão permitiu evidenciar a necessidade de colocar a problemática da PUA na agenda política como um dos principais problemas de saúde pública em Portugal. |
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