DESFECHOS DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA DENGUE EM PACIENTES COM DOENÇA FALCIFORME

Autor: V Weihermann, MW Araujo, CW Erthal, K Caciola, CR Gomes, KT Maio, HR Higashino, AND Neto, Y Nukui, SFM Gualandro
Jazyk: angličtina
Rok vydání: 2024
Předmět:
Zdroj: Hematology, Transfusion and Cell Therapy, Vol 46, Iss , Pp S105-S106 (2024)
Druh dokumentu: article
ISSN: 2531-1379
DOI: 10.1016/j.htct.2024.09.177
Popis: Introdução: A dengue é uma arbovirose de ocorrência endêmica no Brasil, tendo sido registrada uma grande epidemia em 2024. Seu curso clínico parece ser mais grave em pacientes com doença falciforme. Os dados nessa população, entretanto, são escassos e advém principalmente de relatos de casos. Objetivos: Descrever a evolução clínica, exames laboratoriais e desfechos das infecções por dengue em pacientes com doença falciforme atendidos no Hospital Dia da Hematologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP). Material e métodos: Foram incluídos pacientes adultos sabidamente com doença falciforme, com diagnóstico confirmado laboratorialmente de dengue por teste antigênico (NS1) ou sorologia positiva para IgM. Dados laboratoriais nos dias 0 e 5 a partir do início dos sintomas foram analisados. Os dados foram coletados utilizando a plataforma REDCap e analisados no programa R v4.3.3. Resultados: Ao todo, foram incluídos onze pacientes com doença falciforme (45% homens, 73% doença SS, 18% Sβ0 e 9% SC). A mediana de idade foi de 32 (21-59) anos. 36% tinham doença hepática prévia, 18% doença renal e 64% apresentavam comorbidades. Quanto à apresentação da dengue ao diagnóstico, 82% eram grupo B, 9,1% grupo C e 9,1% grupo D. O sintoma mais comum foi mialgia (100%), seguido de febre (91%) e cefaleia (73%). Sobre complicações, 36% dos pacientes precisaram ser encaminhados ao departamento de emergência, e todos eles foram hospitalizados (mediana de 7 dias de internação). Dos internados, 75% eram mulheres e metade tinha doença hepática prévia. 27% dos pacientes evoluíram com disfunção hepática, 18% tiveram sangramentos, 64% necessitaram de transfusão de hemácias e 9,1% de transfusão de plaquetas. Choque hipovolêmico ocorreu em dois pacientes e nenhum teve choque hemorrágico. Internação em UTI foi necessária para dois pacientes, e foi registrado um óbito - a autópsia revelou tromboembolismo pulmonar e êmbolos de medula óssea nos vasos pulmonares. Do ponto de vista laboratorial, a mediana e a variação de hemoglobina, linfócitos e plaquetas no D0 foi, respectivamente, 8,5 (6,1-10,1) g/dL, 1700 (400-2400)/mm3 e 247 (45-492) mil; e no D5, 6,95 (5,6-9) g/d, 4220 (1880-6300) e 60 (40-217) mil. Quanto a alterações hepáticas, AST e ALT foram, respectivamente, 179 (41-1267) mg/dL e 74 (8-832) m/dL no D0; e 98 (50-146) mg/dL e 34 (15-53) mg/dL no D5. Discussão: Pacientes com doença falciforme costumam apresentar piores desfechos nas arboviroses, em parte devido a características imunopatológicas. Monócitos ativados, através de citocinas, podem ativar células endoteliais, as quais contribuem para oclusões microvasculares. A dengue, por sua vez, também altera o endotélio, levando ao aumento da permeabilidade vascular e consequente extravasamento de plasma. Em séries de caso internacionais publicadas, a mortalidade por dengue em falciformes é em torno de 10%, enquanto na população geral essa taxa costuma ser menor que 0,1%. Embora pequena, nossa série de casos mostra que nos pacientes falciformes houve alta taxa de internação hospitalar e ocorrência de óbito, corroborando os dados da literatura internacional. Conclusão: Com o aumento das epidemias de dengue, estabelecer os grupos mais susceptíveis a formas graves é fundamental. Em nosso trabalho, a doença falciforme pareceu conferir um maior risco de complicações à infecção pelo vírus da dengue.
Databáze: Directory of Open Access Journals