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RESUMO A formação médica no Brasil, apesar das várias políticas indutoras governamentais objetivando sua mudança é, ainda, predominantemente hospitalocêntrica, sendo o processo de aprendizagem centrado na doença. Em uma escola médica tradicional, realizamos uma pesquisa na qual o aluno do Internato conduziu uma entrevista voltada para experiência de adoecimento com pacientes crônicos com dificuldades de adesão ao tratamento de hipertensão e/ou diabetes na Atenção Primária. Quatorze Internos em Medicina de Família e Comunidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro foram treinados a aplicar a Entrevista McGill MINI Narrativa de Adoecimento para identificar os modos de compreensão e atribuição de sentidos da experiência de adoecimento e tratamento. Antes e depois da realização do conjunto de 35 entrevistas McGill MINI, os alunos foram individualmente ouvidos quanto a sua compreensão do fenômeno adesão e à experiência com a entrevista McGill MINI. As 35 entrevistas realizadas pelos alunos foram analisadas quanto ao alcance dos objetivos de cada seção da entrevista McGill MINI, além do objetivo geral do entrevistador ser capaz de ofertar um lugar de expertise ao paciente no relato de sua experiência de adoecimento. Buscamos investigar a consistência da experiência do aluno com este roteiro para a obtenção da narrativa de adoecimento, utilizando para tal os temas conceituais desta entrevista – protótipos e modelos explicativos – e os temas emergentes identificados através da análise de conteúdo realizada conforme a técnica descrita por Bardin. Na análise das entrevistas realizadas pela pesquisadora com os Internos ao início e final do Internato, a análise temática foi feita a partir de dois grandes temas: compreensão e experiência clínica com o fenômeno da adesão, e apreciação da experiência de realização da entrevista McGill MINI no contexto da formação médica. Os alunos reconheceram a entrevista McGill MINI como útil para compreender e explorar a experiência de adoecimento e tratamento de um indivíduo no seu contexto socioeconômico e cultural. Ao reconhecerem esta importância da entrevista McGill MINI, os Internos frequentemente referiam as poucas oportunidades de aprendizagem na abordagem de pacientes em geral. Apesar de previamente reconhecerem a importância da escuta e do desenvolvimento do vínculo, desconheciam como isto poderia ser construído, e a experiência aumentou a autoconfiança no cuidado às pessoas no cotidiano médico. Os alunos perceberam que a não-adesão envolve múltiplos fatores, que normalmente não aparecem durante uma consulta médica habitual, e houve de fato uma ampliação na compreensão do fenômeno da adesão. |