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Este texto pretende fundamentar uma filosofia da libertação a partir do seu reverso indissociável, a analítica da dominação/opressão. Nesta direção, ressaltamos a noção prático-teórica da interseccionalidade, entendida como a “apreensão cruzada e imbricada das relações de poder” (DORLIN, 2009: 9) e de seus processos dinâmicos de produção social e histórica. Elaborada a partir dos anos 1970 e 1980 no seio do Black Feminism e amplamente retomada pelas produções feministas pós-coloniais e subalternas mais recentes, esta noção permite abordar o fenômeno da dominação/opressão como um fenômeno complexo e plurifacetado. A categoria da interseccionalidade permite, assim, abarcar as diferentes expressões da dominação, entrelaçando as expressões em termos de gênero, sexualidade, raça/etnia, classe ou nacionalidade; ela permite também destacar o caráter plural das identidades dos grupos e dos sujeitos tocados pelos processos de dominação/opressão e articular a proliferação das lutas e das formas de libertação, simultaneamente direcionadas contra o sexismo, o heterossexismo, o racismo, a opressão de classe ou de nacionalidade. No contexto pós-colonial, entendido como “a tensão entre a superação do colonialismo e a persistência da colonialidade que regula as identidades de sexo/gênero, raciais e políticas” (BIDASECA; OTO; OBARRIO; SIERRA, 2015: 19), a noção da interseccionalidade visa a questionar tanto o universalismo eurocêntrico, compartilhado por boa parte do feminismo hegemônico, como o esencialismo mobilizado por diferentes grupos identitários que, no nome da defesa das culturas locais e específicas, chegam – em diversos casos – a justificar práticas culturais de tipo patriarcal e opressoras das mulheres e de quem enfrenta a heteronormatividade estabelecida (CRENSHAW, 1989/2005 e CASTILLO, 2015). Uma leitura feminista e pós-colonial dos processos interligados de libertação implica a análise crítica do legado colonial que atravessa a violência patriarcal dos grupos subalternizados, naturalizando as identidades e exasperando as dinâmicas de racialização do gênero e de sexualização da raça. |