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Introdução: A síndrome hipereosinofílica (SHE) é uma condição incomum e que pode ser um desafio diagnóstico ao se investigar sua causa. Dentro das SHE, as neoplasias mieloides e linfoides com eosinofilia (NMLEo) constituem um grupo de doenças ainda mais raras. Nelas, alterações genéticas recorrentes são encontradas, entre elas, o rearranjo do PDGFRB. Relato de caso: Paciente masculino, 29 anos, previamente hígido, iniciou um quadro de emagrecimento e astenia, evoluindo com febre, sudorese noturna e esplenomegalia. No mês seguinte, apresentou dor torácica precordial, taquicardia e edema em membros inferiores, o que motivou sua ida a um serviço de saúde. Nesse momento, foi identificada anemia, plaquetopenia, leucocitose e eosinofilia grave (7 mil). Além disso, foi solicitado um ECG (infra de V4-V6 e inversão da onda T) e uma dosagem de troponina (elevada). Devido a esses achados, o paciente foi referenciado para avaliação em nosso serviço. Na avaliação cardiológica, foi realizada uma ressonância magnética, a qual evidenciou achados clássicos de SHE: trombo apical e endomiocardiofibrose. Na avaliação hematológica, em lâmina de sangue periférico, foi observada série branca com desvio até promielócitos, além de eosinófilos com falhas de granulação. Foi, então, realizada avaliação medular, confirmando-se um aumento do número de eosinófilos (21%), além de displasia eosinofílica. Na avaliação molecular, a pesquisa das seguintes alterações mostrou-se negativa: BCR ABL p210 e p190, FIP1L1-PDGFRa, c-Kit, FLT3, JAK2 V617F. O cariótipo e o FISH, entretanto, revelaram a causa da SHE: foi visualizada uma translocação entre os braços longo do cromossomo 5 e o braço curto do cromossomo 9 e um material adicional no braço longo do cromossomo 14. O estudo foi confirmado por FISH, sonda break apart, que mostrou o rearranjo do gene PDGFRB em 86% dos núcleos analisados. O paciente, em seguida, foi submetido a um painel mieloide capaz de estudar 40 genes em DNA e 27 genes de fusão em RNA, incluindo o PDGFRB, o qual, entretanto, não foi capaz de encontrar o gene parceiro do rearranjo. Do ponto de vista de tratamento, foi iniciado imatinib 100 mg/dia. Com isso, em menos de três meses, houve resolução das citopenias e da eosinofilia, com melhora da esplenomegalia e das manifestações cardíacas. Discussão: Do ponto de vista genético, o rearranjo do PDGFRB, localizado no cromossomo 5q33, foi descrita pela primeira vez como consequência da t(5;12). Posteriormente, contudo, foram caracterizadas várias outras translocações, sendo mais de quarenta genes parceiros descritos, todos formando proteínas de fusão do tipo tirosino quinases com atividade enzimática constitutiva. Voltando ao caso do nosso paciente, uma possibilidade para a t(5;9) identificada é o rearranjo KANK1/PDGFRB, que é o único já descrito em literatura nessa doença envolvendo as mesmas regiões cromossômicas identificadas em nosso paciente. Porém, chama a atenção que essa alteração foi identificada em apenas um paciente com NMLEo até o momento, e em sua apresentação, ele tinha trombocitose, ao contrário de nosso paciente. Conclusão: Em um grupo de doenças raras, trazemos um caso com apresentação clínica clássica de NMLEo, porém com uma alteração genética rara, e pouco descrita na literatura. |