Viuus per ora uirum, mas também per faciles buxos: sobreviver ao dilúvio do esquecimento segundo Marcial
Autor: | Maria José Ferreira Lopes |
---|---|
Jazyk: | English<br />French<br />Italian<br />Portuguese |
Rok vydání: | 2020 |
Předmět: | |
Zdroj: | Forma Breve, Iss 16 (2020) |
Druh dokumentu: | article |
ISSN: | 1645-927X 2183-4709 |
DOI: | 10.34624/fb.v0i16.25203 |
Popis: | Célebres pelo retrato satírico da Roma flaviana, os Epigramas de Marcial evidenciam também a dolorosa e trágica fragilidade dos seres humanos. Inbellis praeda (13, 94, 2) à mercê da feroz injustiça social, de acidentes, crimes e doenças, a humanidade é ainda alvo da inuidia dos deuses, personificada pela iniqua Láquesis (10, 53, 3), que alcança até os filhos dos imortais (9,86, 4 e 6). A inexorabilidade da morte e a obliteração quer da presença física do indivíduo, quer da sua memória entre os vivos, eram temas candentes nesses tempos instáveis e violentos, resultando na proliferação de cultos mistéricos que prometiam a salvação. As perspectivas sobre o Além e a imortalidade da alma eram variadas, mesclando tradições religiosas populares com elaborações literárias, informadas por escolas filosóficas antitéticas, como ocorre com Virgílio, Cícero e Séneca – autores mencionados com admiração por Marcial –, Lucrécio ou Plínio, o Velho. O poeta de Bílbilis acredita num Além tradicional: ainda que inclua Elysias domos (1, 94, 2), predomina o pavor das nigras umbras e do medonho Cérbero (5, 34, 3). Recordar os mortos e mitigar o uulnus dos vivos, ferida mais dolorosa nas mortes de jovens, eram imperativos cumpridos através de diversos monimenta doloris. Certo do efeito destruidor do “dilúvio” do tempo não apenas sobre objectos frágeis como as pinturas, mas até sobre monumentos de pedra, Marcial sublinha repetidamente o papel imortalizador dos seus versos, como já Énio fizera com o seu uiuus per ora uirum; mas sugere uma segunda “Arca” da alma e da memória, consoladora sobretudo para figuras humildes como o jovem escravo Álcimo: uma fusão com a natureza, através das plantas nascidas junto ao sepulcro, símbolos do perpétuo retorno – per faciles buxos (1,88, 5). Assim, parece evocar as numerosas metamorfoses em plantas, como o jacinto ou o cipreste, de humanos que os deuses pretendiam manter de algum modo vivos. |
Databáze: | Directory of Open Access Journals |
Externí odkaz: |