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O texto pretende explorar a constituição do sentido de uma obra, relacionando-a com uma noção de vida expandida para além do âmbito pessoal de um artista. Apresentando o paradoxo da liberdade, tal como aparece no texto de Merleau-Ponty dedicado a Cézanne, quero explorar a tensão entre necessidade e liberdade, e a imprevisibilidade nascida nas possibilidades de tal tensão. O sentido de uma vida e de uma obra dela nascida não têm, para Merleau-Ponty, uma explicação causal, nem recorrendo aos dados objetivos da vida de um artista, nem aos dados subjetivos de seu projeto pessoal, porque ambas as esferas fazem parte de uma única vida desenrolando-se dinamicamente em uma liberdade para além de uma noção meramente subjetivista. É na tensão entre projetos pessoais e as contingências da vida que a criação do artista se desenrola, e entre os condicionamentos e possibilidades constantemente abertas, um sentido vai se desvelando, sem rumo certo, discernível apenas em retrospecto. Encerrarei as reflexões com uma abordagem sobre a noção de “repetição criativa” proposta por Landes, tomando a expressão como fenômeno no qual o sentido nasce na tensão entre a pura repetição e a pura criação, tentando mostrar a espontaneidade e a fecundidade dos atos expressivos em suas possibilidades sempre abertas. |