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“Em algum lugar do passado”, o homem contemporâneo encontraria o espírito que anima o seu tempo. Regidos por essa crença, apregoada pelo escritor tcheco, Milan Kundera, temos por objetivo demonstrar, à luz da tradição e da historiografia literária, de que modo as relações entre o “eu” da narrativa e o tempo ficcional foram abaladas, no romance de Guimarães Rosa, Grande Sertão: veredas. Para tanto, nós nos valeremos da reflexão de filósofos e de críticos literários, como Nitrini (1987), Meyerhoff (1976), Ricoeur (2012) e Agamben (2009). Mediante uma leitura crítica e relacionada dessas obras, analisamos as transformações operadas, no romance moderno, especialmente no que concerne à quase descronologização do enredo. Resultou de nosso estudo que a ficção autotélica, anteriormente experimentada por autores como Flaubert, tornou-se o escopo dos grandes escritores do século XX, dentre eles Joseph Conrad e James Joyce. A busca estética contínua, empreendida por esses artífices, acaba por romper com a linearidade do discurso e com o tempo cronológico dos romances tradicionais. A partir dessas inferências, concluímos que Guimarães Rosa, ao conceber um romance assentado nas memórias de um velho jagunço, serviu-se das contribuições estéticas e formais de seus antecessores com o propósito de edificar o seu romance sobre o tempo. Não o tempo cronológico da física, linear e lógico, mas o tempo lacunoso e dúbio da memória. |