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As homossexualidades podem ser apontadas como um tema polêmico, que, como tal, parecem demasiadamente desagradáveis para serem tratadas no cotidiano jornalístico. Questões que as abordem, assim, costumam ganhar notoriedade apenas quando ocorrem episódios que rompem com o cotidiano, atraindo a atenção da sociedade. O que chamo de “episódio Michael” foi um exemplo recente disso: em partida válida pela semifinal da Superliga masculina de vôlei, entre as equipes do Sada Cruzeiro e Vôlei Futuro, um coro praticamente uníssono de torcedores cruzeirenses entoava gritos homofóbicos contra o jogador Michael, da equipe adversária. Ao final da partida, o jogador expôs sua revolta com o ocorrido e, a partir daí, durante semanas, a situação foi comentada nos veículos midiáticos. O episódio, assim, rompeu com o rotineiro silenciamento acerca das homossexualidades, especialmente se considerarmos o cenário esportivo. Assim, o corpus desta pesquisa são os discursos veiculados sobre o caso nos sites dos jornais Estado de Minas, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo, por meio de matérias e seus respectivos comentários de leitores. Tais textos foram analisados sob uma perspectiva de uma abordagem discursiva, no qual os registros analisados são vistos como discursos, construídos dentro de redes de poder, em que certas representações assumem valor de verdade (HALL, 1997). O objetivo deste trabalho é analisar tais discursos, possibilitando reflexões sobre as homossexualidades no esporte e, mais amplamente, na sociedade. Refleti acerca do ambiente virtual a partir dos conceitos de cibercultura (LEMOS, 2004), sociedade em rede (CASTELLS, 2005), mediação (MARTIN-BARBERO, 2003) e comunidade virtual (LÈVY, 1999). Ponderei, ainda, sobre possíveis efeitos do anonimato nesse espaço, baseando-me nas reflexões de Marques (2006). A liberdade de expressão e a censura são conceitos acionados pelos leitores- comentaristas, tendo a maioria desses demonstrado desconhecimento acerca dos limites entre as duas categorias. Trato das homossexualidades a partir de perspectivas dos Estudos de Gênero e da Teoria Queer. Os discursos encontrados, mesmo entre os que criticam as manifestações da torcida, se pautam em parâmetros heteronormativos, supondo um alinhamento entre sexo, gênero e sexualidade. Analisando as especificidades impostas pelo cenário esportivo, verifica-se a forte presença da violência simbólica. Nesse sentido, os discursos estabelecem uma disputa: de um lado, a defesa de comportamentos menos agressivos das torcidas nas arenas esportivas; de outro, a legitimação da flexibilização de normas de civilidade e violência. Encontra-se, ainda, a possibilidade de uma posição intermediária, que reconhece as arenas esportivas como espaço ritual, mas no qual também são necessárias certas atitudes de controle. Os argumentos expostos são, em sua maioria, pautados em estereótipos do esporte e do torcedor que, regulados por redes de poder, são tidos como verdades estabelecidas, noções que questiono. |