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Este artigo pretende contribuir com a discussão sobre a narrativa a partir de uma leitura de A trégua, de Primo Levi. Publicado em 1963, A trégua é o segundo livro de Primo Levi, concluído dezesseis anos após É isto um homem?, e traz uma questão inquietante: por um lado, o livro, ao contar a história do retorno de Primo Levi para sua casa, em Turim, após ser libertado do campo de concentração de Auschwitz, é também uma narrativa de reencontro com a própria humanidade; por outro lado, o autor, no final, admite sua angústia ao reconhecer que o mal de Auschwitz permanecerá para sempre com ele. Portanto, o que muda? Como contar uma narrativa que não elabora uma mudança essencial, mas episódios possivelmente aleatórios? Neste sentido, proponho o conceito de uma narrativa estruturada a partir de “variações experimentais” em torno à experiência de trégua. Formulação retirada de uma das mais marcantes caracterizações do livro, o menino Hurbinek, em cujo nome Levi testemunha, as “variações experimentais” podem ser compreendidas como uma alternativa ao impasse acima entre episódios expressivos e sua relativa incapacidade de gerar alguma mudança significativa no sentido histórico do Holocausto. |