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Este artigo analisa o filme Um dia na vida (Eduardo Coutinho, 2010), do ponto de vista da apropriação das imagens da televisão aberta brasileira. Veremos como essas imagens, expostas em sua materialidade, ou seja, sem intervenções importantes na forma como foram originalmente editadas pelos veículos de comunicação, uma vez deslocadas de seu meio de difusão habitual e inscritas num projeto propriamente cinematográfico, reaparecem no espaço contemporâneo com um sentido renovado. Partimos de um paralelo entre o método de desvio das imagens do espetáculo no filme de Coutinho e na obra de Guy Debord, afim de estabelecer suas respectivas diferenças e propor o aprofundamento do debate sobre o desvio, técnica de composição capaz de proporcionar ao espectador uma experiência ao mesmo tempo estética e política. Veremos também como as interrupções produzidas pela montagem de Um dia na vida, ao suscitarem um estranhamento em relação à linguagem televisiva, convidam-nos a uma leitura crítica da televisão. Para concluir, afirmamos que os procedimentos formais desse filme, tão radicais quanto minimalistas, operam, enfim, uma verdadeira conversão do fluxo televisivo em material de arquivo, uma transformação da liquidez da produção audiovisual em cristal de memória das imagens da TV. |