Popis: |
Gil Vicente escreveu boa parte de seu teatro devocional a partir do “ciclo da natividade”, disseminado pelas moralidades e milagres típicos da dramaturgia medieval. Compondo uma face desse ciclo, o Auto da sibila Cassandra (ca. 1509-1513), a exemplo dos demais textos vicentinos desse período, termina com a cena do presépio como modelo máximo de humildade, antítese do “mundo às avessas” representado no primeiro quadro da peça. O presente artigo analisa os personagens centrais do auto, Cassandra e Salomão, como identidades de culturas distintas (a tradição clássica e o mundo do Antigo Testamento), ambas imbuídas da soberba que caracteriza o pecado de Lúcifer, porém levadas ao reconhecimento do erro, bem como à piedade e à adoração que movem o ciclo da natividade do teatro medieval. Uma breve análise histórica sobre o pecado do orgulho, fundamentada sobretudo em Agostinho e Tomás de Aquino, sustenta o entendimento da ação composta por Gil Vicente |