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Nas obras de Conceição Evaristo, a memória atualiza dores e humilhações as quais os negros, vindos do continente africano, sofreram, e seus descendentes continuam a sofrer. Enfoca, também, o espírito de resistência dos afrodescendentes. Neste trabalho, a partir do romance Ponciá Vicêncio, questionamos como o barro funcionou na constituição e transmissão de memória coletiva dos negros. O objetivo foi compreender a modelagem e as peças de barro como objeto cultural portador de memória coletiva ao revigorar a herança do passado e impulsionar o reencontro da família Vicêncio. Em termos metodológicos, como pesquisa bibliográfica, foi lida e relida a obra literária para compreensão e identificação de palavras como barro, argila, artesanato, cerâmica e os contextos em que são citadas nos círculos percorridos por Ponciá. Repetidas em todo o texto, as palavras se relacionam à matéria-prima, massa da terra, barro pronto a ser modelado e transformado, de maneira singular e com assinatura própria, em peças utilitárias e enfeites para usar no cotidiano, presentear ou vender. Mas também funcionam como metáfora do pote - grande útero acolhedor e matéria-prima da criação do avô-homem-barro, além de inspiração para modelagem de elos para ligar passado-presente-futuro. Na singularidade do sujeito, o objeto cultural reuniu vozes dos antepassados em direção a um novo jeito de existência. O romance contribui, assim, para a valorização de raízes identitárias e objetos de memória, como também evidencia a importância da ação-evento e assinatura de sujeitos responsivos na defesa do povo negro na sociedade brasileira. |