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O presente ensaio tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre o caso da ameixeira amarela, a mirabelinha da rua Nalewki, em Varsóvia. A árvore frutífera sobreviveu ao gueto de Varsóvia e ao regime comunista e acabou sendo vítima, há poucos anos, de um empreendedor imobiliário. A mirabelinha chegou à consciência coletiva e ao imaginário literário a partir de uma reportagem literária de Hanna Krall. Em seu texto Obecność (A presença), publicado em 1998, a escritora investigava o caso do aparecimento dos fantasmas dos antigos moradores do gueto nas casas modernistas construídas em seu lugar, apresentando por meio da investigação a complexa questão da memória local. No lugar cujos moradores foram exterminados e o tecido da cidade completamente destruído e posteriormente reconstruído, árvores, pedaços de calçada e inesperados objetos escavados durante as brincadeiras infantis tornaram-se os poucos guardiões materiais da memória. A mirabelinha, após ser derrubada, tornou-se protagonista de um movimento social que culminou com seu replante em setembro de 2018 e a narradora do livro infantil de Cezary Harasimowicz, Mirabelka (2018), reconta toda a sua história e faz dela um símbolo da memória, que, como ela, mesmo erradicada, acaba ressurgindo das maneiras mais inesperadas, sendo replantada por meio de vários movimentos artísticos e sociais.Palavras-chave: memória, gueto de Varsóvia, literatura polonesa. |