O que é ser um crackudo?: processos de desumanização e ceticismo misantrópico na contemporaneidade
Autor: | Levy, Virgínia Lima dos Santos |
---|---|
Přispěvatelé: | Universidade Federal de Santa Catarina, Vernal, Javier Ignacio, Schneider, Daniela Ribeiro |
Jazyk: | portugalština |
Rok vydání: | 2021 |
Předmět: | |
Zdroj: | Repositório Institucional da UFSC Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) instacron:UFSC |
Popis: | Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, Florianópolis, 2021. O consumo de crack é uma das principais questões políticas do Brasil contemporâneo. Muito abordada sob um viés reducionista, biologicista, medicalizante e individual, esta questão não pode ser vista de forma isolada: inscreve-se em uma longa \"tradição\". Em muitos momentos e contextos, vimos tentativas de controlar, colonizar, normalizar, que partiam da desumanização do diferente. Diversos grupos (mulheres, negros, índios, LGBTs, judeus, nômades, portadores de deficiência, crianças, loucos...) foram menosprezados, mortos, escravizados ou tutelados, condenados à morte política não só por suas características reais, mas também por características imaginárias que lhes foram atribuídas, como a perda da capacidade cognitiva. Neste sentido, esta tese teve como objetivo apontar para o modo como o usuário de crack é, hoje, uma nova versão do \"outro\", do sujeito não sujeito, do objeto, do corpo abjeto. Para abordar as fantasias que a sociedade criou para o usuário de crack, esta pesquisa empírica e bibliográfica, de orientação etnográfica, foi iniciada com o levantamento de relatos de usuários de crack inseridos em 2 serviços especializados de saúde mental, profissionais desses serviços, e pessoas em situação de rua abordadas em Consultório na Rua. Posteriormente, também foram considerados relatos em redes sociais sobre operações policiais na Cracolândia de São Paulo. Nossa hipótese é a de que o corpo do usuário do crack não é lido como um corpo totalmente humano e, portanto, é tratado como sub-humano. Observou-se a ampla presença e similaridade entre o discurso de ódio contra usuários de crack e contra outros grupos sociais racializados e estigmatizados, que chegam a ser misturados no discurso. Observou-se também que, mesmo com a experiência direta como usuário, ou com a experiência como profissional que se propõe a um cuidado singularizado, ainda é difícil romper a lógica de uma clínica colonialista, tutelar, silenciosa, para construir alternativas que contribuam para possibilitar ao sujeito um lugar de cuidado efetivo, não subalternizado, e para que fale por ele mesmo. Abstract: Crack consumption is one of the main political issues in contemporary Brazil. Much approached under a reductionist, biologicist, medicalizing and individual bias, this issue cannot be seen in isolation: it is part of a long \"tradition\". In many moments and contexts, we have seen attempts to control, colonize, normalize, which stemmed from the dehumanization of the different. Several groups (women, blacks, Indians, LGBT people, Jews, nomads, people with disabilities, children, insane people ...) were despised, killed, enslaved or tutored, condemned to political death not only for their real characteristics, but also for imaginary characteristics attributed to them, such as the loss of cognitive ability. In this sense, this thesis aimed to point to the way in which the crack user is, today, a new version of the \"other\", of the non-subject subject, of the object, of the abject body. To approach the fantasies that society has created for the crack user, this empirical and bibliographic research, of ethnographic orientation, started with the survey of reports of crack users inserted in 2 specialized mental health services, professionals of these services, and people on the street (\"homeless population\") approached in a \"Street Clinic\". Subsequently, social media comments on police operations in São Paulo's Cracolândia were also considered. Our hypothesis is that the crack user's body is not read as a fully human body and, therefore, is treated as subhuman. There was a wide presence and similarity between hate speech against crack users and against other racialized and stigmatized social groups, which are even mixed up in the speech. It was also observed that, even with the direct experience as a user, or with the experience as a professional who proposes a singularized care, it is still difficult to break the logic of a colonialist, tutelary, silent clinic, to build alternatives that contribute to enable to the subject a place of effective care, not subordinate, where the subject can speak for himself. |
Databáze: | OpenAIRE |
Externí odkaz: |