Navegar o Xingu, navegar o poder : um estudo autoetnográfico das práticas de consultoria no contexto do licenciamento ambiental da barragem Belo Monte, Amazônia
Autor: | Rafael Gomes de Sousa da Costa |
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Přispěvatelé: | Andréa Luisa Zhouri Laschefski, Deborah Bronz, Sônia Maria Simões Barbosa Magalhães Santos, Raquel Oliveira Santos Teixeira, Ana Flávia Moreira Santos |
Jazyk: | portugalština |
Rok vydání: | 2021 |
Předmět: | |
Zdroj: | Repositório Institucional da UFMG Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) instacron:UFMG |
Popis: | CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Esta tese trata da produção de uma etnografia das práticas de consultoria ambiental no contexto do licenciamento da usina hidrelétrica Belo Monte, localizada na Volta Grande do rio Xingu, estado do Pará, região Norte do Brasil. Para tanto, trago à tona um relato autoetnográfico da minha experiência como analista de campo numa empresa de consultoria ambiental, responsável pela execução de estudos ambientais e pelo acompanhamento de medidas de mitigação e compensação ambiental da navegação empreendida pelas populações da Volta Grande durante a instalação da hidrelétrica na região, entre os anos 2010 e 2013. O objetivo do trabalho é refletir sobre os desafios enfrentados pelos analistas de campo das empresas de consultoria ambiental numa cultura institucional que busca assegurar os interesses financeiros dos empreendedores, tal como a construção de uma usina hidrelétrica no prazo definido pelos investidores. A descrição desses desafios abriu uma ampla reflexão sobre as relações de poder que governam as práticas de consultoria ambiental no Brasil, expressa, por exemplo, na forma como os efeitos de uma barragem (ou “impactos”, no jargão dos consultores) são definidos a partir do discurso oficial da regulação ambiental, o qual está marcado pelo subdimensionamento ou omissão de seus agravos. Nesse trabalho, argumento que as definições sobre os efeitos dos empreendimentos são sobretudo construídas na interação entre o alto escalão das empresas de consultoria ambiental e o alto escalão das empresas empreendedoras. Partindo da exposição da hierarquia de cargos das consultorias – na qual o alto escalão é composto por gerentes e coordenadores que administram os contratos de prestação de serviços ambientais desde os escritórios-sedes, geralmente situados nas grandes cidades da região Sudeste do país; enquanto o baixo escalão é composto pelos analistas de campo que executam as ações ambientais no chão da obra de um empreendimento –, busco descrever como os analistas de campo se movem no terreno social das consultorias e como esse movimento pode (ou não) influenciar o campo político das definições dos efeitos sociais dos empreendimentos. Meu interesse é registrar o movimento, na ação e no pensamento, dos analistas de campo num terreno social altamente hierárquico e como esse movimento pode (ou não) afetar o curso de suas trajetórias profissionais. É nesse sentido que uso o conceito de “navegação social”, cunhado por Henrik Vigh: um conceito utilizado para compreender como os atores sociais, a partir de posições e condições de poder específicas, se movem dentro de suas formações sociais e como esse movimento busca moldar suas circunstâncias de vida. Esta tese trata da produção de uma etnografia das práticas de consultoria ambiental no contexto do licenciamento da usina hidrelétrica Belo Monte, localizada na Volta Grande do rio Xingu, estado do Pará, região Norte do Brasil. Para tanto, trago à tona um relato autoetnográfico da minha experiência como analista de campo numa empresa de consultoria ambiental, responsável pela execução de estudos ambientais e pelo acompanhamento de medidas de mitigação e compensação ambiental da navegação empreendida pelas populações da Volta Grande durante a instalação da hidrelétrica na região, entre os anos 2010 e 2013. O objetivo do trabalho é refletir sobre os desafios enfrentados pelos analistas de campo das empresas de consultoria ambiental numa cultura institucional que busca assegurar os interesses financeiros dos empreendedores, tal como a construção de uma usina hidrelétrica no prazo definido pelos investidores. A descrição desses desafios abriu uma ampla reflexão sobre as relações de poder que governam as práticas de consultoria ambiental no Brasil, expressa, por exemplo, na forma como os efeitos de uma barragem (ou “impactos”, no jargão dos consultores) são definidos a partir do discurso oficial da regulação ambiental, o qual está marcado pelo subdimensionamento ou omissão de seus agravos. Nesse trabalho, argumento que as definições sobre os efeitos dos empreendimentos são sobretudo construídas na interação entre o alto escalão das empresas de consultoria ambiental e o alto escalão das empresas empreendedoras. Partindo da exposição da hierarquia de cargos das consultorias – na qual o alto escalão é composto por gerentes e coordenadores que administram os contratos de prestação de serviços ambientais desde os escritórios-sedes, geralmente situados nas grandes cidades da região Sudeste do país; enquanto o baixo escalão é composto pelos analistas de campo que executam as ações ambientais no chão da obra de um empreendimento –, busco descrever como os analistas de campo se movem no terreno social das consultorias e como esse movimento pode (ou não) influenciar o campo político das definições dos efeitos sociais dos empreendimentos. Meu interesse é registrar o movimento, na ação e no pensamento, dos analistas de campo num terreno social altamente hierárquico e como esse movimento pode (ou não) afetar o curso de suas trajetórias profissionais. É nesse sentido que uso o conceito de “navegação social”, cunhado por Henrik Vigh: um conceito utilizado para compreender como os atores sociais, a partir de posições e condições de poder específicas, se movem dentro de suas formações sociais e como esse movimento busca moldar suas circunstâncias de vida. This thesis is an ethnography of environmental advising practices in the context of the environmental licensing of the Belo Monte dam, located in Volta Grande do rio Xingu, Pará state, Northern region of Brazil. Therefore, I bring up an autoethnographic report of my experience as a field environmental analyst at an environmental advising firm during the years 2010-2013, when I was responsible for carrying out monitoring studies and following up the mitigation measures for the navigation undertaken by the Volta Grande’s riparian population. The objective of the work is to reflect over the challenges faced by the field analysts of an environmental advising company in an institutional culture that seeks to ensure the financial interests of the entrepreneurs, such as the construction of a hydroelectric power plant within the deadline set by the investors to the detriment of the rights of the project-affected-populations. The description of these challenges opened up a broad reflection about power relations in the field of environmental advising practices in Brazil, expressed, for example, in the way through which the effects of a dam (or "impacts", in the consultants' jargon vocabulary) are defined in coherence to the official discourse about the dam´s environmental regulation, which is marked by the underestimation or neglect of its environmental problems. In this work, I argue that the definitions about the effects of the dam are constructed in the interaction between the top managerial entrepreneurial positions and the top managerial environmental advisers. In this context, from an exposition of the hierarchy of positions of the environmental advising firms - in which the top managers and coordinators are those who administer the environmental contracts from the head offices, generally located in large cities of the Southeast region, while the lower analysts are those who carry out the environmental actions in the field, that is, on the construction site of a large enterprise -, I seek to describe how the field analysts move themselves over the social terrain of their organizations and how this movement might (or not) influence the definitions about the dam´s social effects. My interest is to register the movement, in action and in thought, of the field analysts in a highly hierarchical social terrain, and how this movement may (or not) affect the course of their professional trajectories. Hereby, I use the concept of “social navigation”, coined by Henrik Vigh: a concept used to understand how social actors, from a specific social position or condition of power, move themselves within their social formations and how this movement seeks to shape their life circumstances. This thesis is an ethnography of environmental advising practices in the context of the environmental licensing of the Belo Monte dam, located in Volta Grande do rio Xingu, Pará state, Northern region of Brazil. Therefore, I bring up an autoethnographic report of my experience as a field environmental analyst at an environmental advising firm during the years 2010-2013, when I was responsible for carrying out monitoring studies and following up the mitigation measures for the navigation undertaken by the Volta Grande’s riparian population. The objective of the work is to reflect over the challenges faced by the field analysts of an environmental advising company in an institutional culture that seeks to ensure the financial interests of the entrepreneurs, such as the construction of a hydroelectric power plant within the deadline set by the investors to the detriment of the rights of the project-affected-populations. The description of these challenges opened up a broad reflection about power relations in the field of environmental advising practices in Brazil, expressed, for example, in the way through which the effects of a dam (or "impacts", in the consultants' jargon vocabulary) are defined in coherence to the official discourse about the dam´s environmental regulation, which is marked by the underestimation or neglect of its environmental problems. In this work, I argue that the definitions about the effects of the dam are constructed in the interaction between the top managerial entrepreneurial positions and the top managerial environmental advisers. In this context, from an exposition of the hierarchy of positions of the environmental advising firms - in which the top managers and coordinators are those who administer the environmental contracts from the head offices, generally located in large cities of the Southeast region, while the lower analysts are those who carry out the environmental actions in the field, that is, on the construction site of a large enterprise -, I seek to describe how the field analysts move themselves over the social terrain of their organizations and how this movement might (or not) influence the definitions about the dam´s social effects. My interest is to register the movement, in action and in thought, of the field analysts in a highly hierarchical social terrain, and how this movement may (or not) affect the course of their professional trajectories. Hereby, I use the concept of “social navigation”, coined by Henrik Vigh: a concept used to understand how social actors, from a specific social position or condition of power, move themselves within their social formations and how this movement seeks to shape their life circumstances. |
Databáze: | OpenAIRE |
Externí odkaz: |