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A rabeca, instrumento de corda friccionada que chegou ao Brasil durante os primórdios da colonização, vive atualmente um processo de revival, em que tocadores, construtores, pesquisadores, e entusiastas desta formam uma “comunidade de práticas” (Lave&Wenger 1991). Dentro dessa comunidade de práticas, há um permanente e fluido intercâmbio de informação entre seus atores, o que permite que muitos intérpretes sejam construtores e vice-versa, e onde há um consenso em que não existe uma única rabeca, com um padrão ideal e cristalizado. Pelo contrário, ela apresenta uma grande diversidade quanto à forma, tamanho, afinação, número de cordas, madeiras utilizadas, maneiras de tocar e repertórios, sempre privilegiando o resultado prático sobre convenções e padrões, e sobrepondo ‘o gosto do freguês’ à cristalização e estândares. Esta diversidade está associada aos diferentes papeis musicais e sociais que desempenha em diferentes manifestações ao longo do Brasil, mas também devido a que neste século se encontra em um processo de emancipação, expansivo e migratório em caráter “não apenas geográfico, mas de um contexto cultural para outro, de um segmento social para outro e para outros tipos de manifestação popular e, até mesmo, erudita” (Lima 2001) Baseado nesta diversidade e a partir do meu trabalho de campo de doutoramento que inclui -além de entrevistas, organização e participação em encontros de troca de saberes, apresentações acompanhando e tocando rabeca com diversos intérpretes- a construção colaborativa de um outro instrumento similar, denominado por mim de ‘rabecão’. Sendo violoncelista e baixista, este instrumento surge da aspiração de uma rabeca maior e com registro mais grave com intuito de funcionar como acompanhamento da rabeca no repertorio tradicional, mas também assumindo o papel melódico assim como em outros gêneros e cancioneiros, o que expressa a continuidade de seu espírito emancipador e voz subalterna. (Carvalho 2001). Neste recital-conferência, mostrarei uma primeira versão deste instrumento, concebido e fabricado em colaboração com o construtor-tocador pernambucano Dinda Salu. Apresentarei o design, manufatura e a sonoridade do instrumento em repertório tradicional, popular e erudito. Discutirei ainda questões levantadas por este instrumento no âmbito do trabalho de campo desenvolvido junto da comunidade de práticas da rabeca. published |