Mulheres, política e visibilidade mediática. As lideranças de Maria de Lourdes Pintasilgo e de Manuela Ferreira Leite

Autor: Martins, Carla Isabel Agostinho
Přispěvatelé: Ponte, Maria Cristina Mendes da
Jazyk: portugalština
Rok vydání: 2013
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Popis: A presente investigação propõe uma triangulação entre política, media e género, através da análise de dois estudos de caso, recortados da história política do pós-25 de Abril, em que duas mulheres acederam a cargos políticos de topo e adquiriram elevada notoriedade pública, desafiando a hegemonia masculina nesta esfera. Centramo-nos, não na invisibilidade e suas razões, mas na forma como a visibilidade de duas líderes foi, em contextos precisos, construída pelo discurso jornalístico. O primeiro estudo de caso incide sobre a indigitação de Maria de Lourdes Pintasilgo para chefiar o V Governo, em 1979, conhecido como “o Governo dos 100 dias”. O segundo reporta-se ao início do século XXI e acompanha o percurso da social-democrata Manuela Ferreira Leite como ministra das Finanças (2002), presidente do PSD (2008) e candidata, por este partido, às eleições legislativas de 2009. A atenção mediática que atraíram nessas qualidades constitui uma circunstância ideal de observação dos modos de representação, pelo discurso jornalístico, da subjetividade política feminina. Os resultados da pesquisa permitem recensear estilos particulares de liderança construídos e projetados pelos media, bem como estabelecer uma ligação desses perfis a atributos que se considera caracterizarem o exercício do poder segundo os diferentes géneros. Procurou perceberse se nas imagens que os media constroem das protagonistas políticas ecoam quadros tradicionais de entendimento dos lugares, atividades e relações entre homens e mulheres, e se refletem a ativação de inferências cognitivas, não desligadas das leis de funcionamento do campo político e de uma noção restritiva de cidadania: que a política é um topos masculino e o feminino continua a ser um elemento estranho nesta esfera; que existe uma “natural” identificação entre poder, liderança, autoridade e o masculino, enquanto esse nexo é extraordinário no feminino; que o “homem” e o “político” se fundem, enquanto se separam as identidades de “mulher” e de “política”; que os homens são públicos e produtivos, as mulheres privadas e reprodutivas, logo, continuam a ser reconduzidas de muitas maneiras ao domínio e às funções domésticas. Como questão complementar, analisa-se em que medida a crescente profissionalização das relações entre políticos e jornalistas se repercute no desenho de estratégias de comunicação que antecipam expetativas de desempenho fundadas em pressupostas identidades de género ou são direcionadas especificamente à população feminina. A pesquisa alicerça-se num cruzamento interdisciplinar que convoca a teoria política feminista, os estudos feministas dos media e os estudos jornalísticos, com contributos relevantes da ciência política, do direito, da história e da sociologia. O interesse em estudar de forma articulada género, política e media assenta na convicção de que, nas sociedades contemporâneas, é profunda a conexão entre a trama de discursos mediáticos e a definição social de identidades, lugares e relações de poder. This research aims to put into perspective the relations between politics, media and gender, through the analysis of two study cases from the political history of post-25th April Portugal, in which two women rose to top-tier political offices, and gained a high level of notoriety, defying the male dominance within this sphere. We shall focus, rather than on the invisibility and its reasons, on the ways that the visibility of two female leaders was, in particular contexts, built by the journalistic discourse. The first study case consists of the appointment of Maria de Lourdes Pintasilgo to lead the 5th Government, in 1979, known as “the 100-day Government”. The second refers to the early 21st century and consists of the path undertaken by social democrat Manuela Ferreira Leite as minister of finance (2002), leader of PSD (2008) and candidate to the parliamentary elections of 2009. The media attention that they attracted provided an ideal circumstance of observation of the ways of representation, by the journalistic discourse, of the female political subjectivity. The results of the research enable us to pinpoint particular styles of leadership designed and outlined publicly by the media and to establish a relation between those profiles and features that identify the exercise of power in a gender perspective. We attempted to draw conclusions on whether the images put together by the media convey traditional frameworks regarding the places, activities and relations between men and women and reflect the activation certain cognitive deductions connected to the laws of functioning of the political sphere and restrictive notions of citizenship: politics as a male topos, and the female element viewed as foreign to this domain; a “natural” identification between power, leadership, authority and the male element, while such connection is out-of-the-ordinary as regards the female element; that “man” and “politics” tend to merge, while the identities of “woman” and “politics” are clearly separated; that men are public and productive, while women are private and reproductive, therefore, are still in many ways associated with the domestic sphere and tasks. In addition to that, we have analysed the extent to which the growing level of professionalization of the relations between politicians and journalists has influenced the design of communication strategies that anticipate genderbased expectations of performance, and if they have specifically targeted the female public. The research is based on a interdisciplinary crossroads between feminist political theory, feminist media studies, and journalistic studies, with reliant contributions from political science, law, history and sociology. The interest in studying gender, politics and media in a joint approach lies on the belief that, in contemporary societies, the connection between the web of media speeches and the social definition of identities, places and power relations, is rather tight.
Databáze: OpenAIRE