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Arquivos da Sociedade Portuguesa de Patologia Respiratória. 1992; 9(4): 175-180 Com o objectivo de investigar as alterações da função ventilatória durante o envelhecimento, estudámos 46 mulheres com autonomia física, que nunca tinham fumado e sem antecedentes respiratórios. A espirometria incluíu a medição dos volumes e das capacidades pelo método do hélio em circuito fechado. Entre a 6ª e a 7ª décadas encontrámos uma redução da capacidade vital, dependente da diminuição simultânea dos volumes da reserva inspiratória e expiratória, acompanhada de uma tendência para a redução da capacidade pulmonar total e para o aumento do volume residual. Observámos também uma diminuição dos débitos expiratórios forçados com a idade. Os resultados que obtivémos foram semelhantes aos valores internacionais de referência. As alterações ventilatórias encontradas não reflectem uma limitação patológica do débito aéreo, mas sim a redução da tracção do parênquima pulmonar e também o aumento da rigidez da parede torácica e a diminuição da força que ocorrem durante o envelhecimento. (Discussão) Encontrámos uma redução da capacidade vital (CV) entre a 6ª e a 7ª décadas, causada por uma diminuição simultânea do volume de reserva inspiratória (VRI) e do volume de reserva expiratória (VRE). Em relação aos restantes parâmetros observámos uma tendência para o aumento do volume residual (VR) e para a redução da capacidade pulmonar total (CPT), sem variações da capacidade residual funcional (CRF), o que originou um aumento significativo dos índices volume residual-capacidade pulmonar total (VR/CPT) e capacidade residual funcional-capacidade pulmonar total (CRF/CPT), revelando a existência de maior volume de ar residual com a idade. Os resultados obtidos com a espirometria forçada foram semelhantes aos anteriormente descritos. (...) Quando comparámos a evolução dos parâmetros estáticos e dinâmicos nas duas décadas, verificámos que ao aumento dos índices VR/CPT e CRF/CPT com a idade não correspondeu uma diminuição do índice VEMS/CVF, o que pode significar que o aumento do ar residual ocorreu sem agravamento da limitação do débito aéreo. É provável que esta dissociação resulte do predomínio das alterações da parede torácica em relação às do parênquima pulmonar na população por nós estudada. Embora apenas de um modo qualitativo, comparámos o valor médio e o respectivo desvio-padrão de cada um dos parâmetros medidos com os valores previstos, obtidos a partir das equações de referência europeias. Para obter esses valores introduzimos os valores médios da idade e da altura da 6ª e 7ª décadas (quadro) em dois conjuntos de equações internacionais, e verificámos que eles não diferiam dos medidos em mais de um desvio-padrão. Em ambas as décadas verificámos que apenas os nossos valores da CV e do VRI eram mais elevados do que os previstos, enquanto os valores da CRF, VR e CPT eram sempre inferiores. Os valores previstos do VRE obtidos a partir das equações da ECCS/CECA foram superiores aos medidos, enquanto os valores previstos obtidos a partir da outra área de equações se aproximaram consideravelmente dos nossos. A proximidade dos resultados obtidos justifica a utilização dessas equações em estudos de espirometria estática efectuados na população idosa portuguesa. |