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O trabalho intensivo nas vinhas durienses, devidoà escassez da mão-de-obra local, dependeu, duranteséculos, da atracção de populações pobres das regiõesvizinhas. Com o desenvolvimento do comércio dos vinhosgenerosos do Douro, a partir de finais do séculoXVII, quando despertaram a preferência do mercadobritânico, alastrou a plantação de novas vinhas eaumentou a necessidade de trabalhadores para o seugranjeio. Nessa altura, o Douro passou a atrair tambémmuitos galegos, sobretudo para as fainas grandesdas surribas, das plantações, da construção de socalcos,das cavas e das vindimas, que, nas maiores quintas,chegavam a concentrar centenas de trabalhadores.Durante quase dois séculos, até ao início do século XX,todos os anos chegavam ao Douro milhares de trabalhadoresgalegos, em bandos, acompanhados de «empreiteiros»,que negociavam alguns meses de trabalhonas quintas. Depois da destruição provocada pela filoxera,quando foi preciso reconstruir todo o vinhedoregional, muitas surribas e plantações de novas vinhasforam realizadas por galegos. A partir das primeirasdécadas do século XX, os galegos deixaram de vir procurartrabalho no Douro. Desaparecidos e esquecidos,os galegos deixaram, no entanto, uma marca indelévelnão apenas na paisagem vinhateira monumental doAlto Douro mas também na sua população, nos hábitosque se enxertaram nas tradições locais, nos modosde dizer e de fazer, da gastronomia à religiosidade, àmúsica ou ao imaginário popular. Nesta breve comunicação,numa perpectiva histórica sintética de longaduração, pretende-se situar o trabalho dos galegos naconstrução e reconstrução do Douro vinhateiro. Due to the shortage of local workers, the intensivework in the Douro vineyards has depended for centuriesin the attraction of the people from the poor neighbouringregions. With the development of the tradeof the fortified wines of the Douro, from the late seventeenthcentury on, when the preferences of the Britishmarket stood out, the planting of new vineyards spreadand the need for workers to their granjeio increased.At that time, the Douro attracted many galegos (Galicians),especially for big chores of surribas, plantations,construction of terraces, cavas and the grapeharvest, which in the larger estates, came to concentratehundreds of workers. For nearly two centuries, untilthe beginning of the twentieth century, every yearthousands of galegos workers reached the Douro indroves, accompanied by contractors who traded a fewmonths working on a farm. After the destruction causedby phylloxera, when it was necessary to rebuild theentire regional vineyard, many surribas and new vinesplantations were carried out by galegos. After thefirst decades of the twentieth century, the galegosstopped to looking for work in the Douro. Disappearedand forgotten, the galegos left, however, an indeliblemark not only on the monumental vineyard landscapeof the Alto Douro but also in its people, habits that aregrafted on local traditions in ways of saying and doing,gastronomy, religiosity, music or popular imagination.In this brief communication, a synthetic historicalperspective of the long term, we intend to place thework of the galegos in the construction and reconstructionof the Douro wine region. |