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Bárbara Virgínia (1923-2015) é o nome artístico da primeira realizadora portuguesa de longas metragens. Em 1946, foi a única no 1º festival de Cannes com “Três dias sem Deus”. Nascida em família de classe média, teve educação artística e acesso a uma rede de intelectuais e artistas. Emigra, sem regresso, para o Brasil em 1952, longe da desaprovação dos parentes à sua exposição nos palcos, de acordo com padrões patriarcais e de classe. Impeliram-na ainda os constrangimentos do estado fascista à realização de cinema e o fechamento da vida social em Portugal. Adquire independência económica, constitui família aos 39 anos, acrescida aos 52 por uma filha. Após intensa carreira como diseuse no Brasil, abandona a vida artística e centra-se na família. Abre um restaurante e escreve livros de etiqueta, mantendo uma rede de relações culturais e sociais no contexto brasileiro. Partimos da análise de entrevistas e registos fílmicos testemunhais, de recortes de imprensa próprios e de uma fã, da leitura dos seus escritos e do que resta dos seus filmes. Recorremos a quadro teórico (Beverley Skeggs, Linda Alcoff, Teresa de Lauretis) que, destacando as questões de género, cruza os contextos sociais e políticos da produção cultural nos dois países na primeira metade do século. De uma perspetiva crítica apresentam-se resultados preliminares da construção de uma sócio-biografia, ainda desconhecida, com os seus aspetos contraditórios pessoais e artísticos, discutindo o ético, o estético e o social. Barbara Virginia (1923-2015) is the stage name of first Portuguese female feature films director, the only one competing in the 1st Cannes film festival of 1946 with "Three days without God". Born in a middle-class family, she had access to artistic education and to a network of intellectuals and artists. She emigrates to Brazil in 1952, escaping the relatives who disapproved her public exposure, according to patriarchal and class patterns, the constraints on film making by the fascist state and a confined social life in Portugal. She acquires economic independence, constitutes a family at the age of 39, and has a daughter at 52. After an intense career as a diseuse in Brazil, she abandons the artistic life and centres on her family. Later, she takes to opening a restaurant and writing etiquette books, weaving a cultural and social network in the Brazilian context. We depart from the analysis of interviews and testimonial film records, her own press clippings those of a fan, her writing, and of what is left of her films. We draw a theoretical framework (Beverley Skeggs, Linda Alcoff, Teresa de Lauretis) which, highlighting gender issues, crosses the social and political contexts of cultural production in the two countries during the first half of the century. From a critical perspective, we present the preliminary results of the construction of a socio-biography, still unknown, with contradictory artistic and personal aspects, discussing the ethical, the aesthetic and the social. |