FROM PRIVATE MOURNING TO COLLECTIVE STRUGGLE: NARRATIVES AND MOTHERS RESISTANCE TO POLICE VIOLENCE

Autor: ETYELLE PINHEIRO DE ARAUJO
Přispěvatelé: LILIANA CABRAL BASTOS, LIANA DE ANDRADE BIAR, DANIEL DO NASCIMENTO E SILVA, MARIA CLAUDIA PEREIRA COELHO
Jazyk: portugalština
Rok vydání: 2021
Zdroj: Repositório Institucional da PUC-RIO (Projeto Maxwell)
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO)
instacron:PUC_RIO
Popis: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DO PESSOAL DE ENSINO SUPERIOR CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO PROGRAMA DE DOUTORADO SANDUÍCHE NO EXTERIOR O Rio de Janeiro é o estado que conta com o maior número de mortos em incursões policiais nas favelas – geralmente, incursões relacionadas ao combate às drogas. Por exemplo, em 2019, 1.808 mortes (sendo a população negra, 70 porcento das vítimas) foram classificadas como homicídio decorrente de intervenção policial, classificação que caracteriza a ação do policial como legítima defesa e significa uma série de diligências que, geralmente, resultam no arquivamento do Inquérito Policial sem uma investigação mais profunda ou na absolvição dos oficiais envolvidos. Nesse cenário emerge o movimento de luta das mães de vítimas desse tipo de violência – mulheres que se engajam em movimentos sociais para lutar por justiça, para esclarecer as circunstâncias da morte dos filhos e exigir a punição dos envolvidos. O presente trabalho tem como objetivo investigar como se dá a transformação do luto em luta, isto é, examinar como as mães articulam sofrimento pessoal e ativismo político ao se engajarem em movimentos sociais, mais especificamente, na Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência. As narrativas enunciadas por elas nos protestos públicos se configuram como objeto privilegiado de análise. Trata-se de uma análise qualitativa-interpretativista, empreendida em perspectiva micro, conduzida pelos estudos que consideram o discurso narrativo como forma de construção da vida social e instrumento dos movimentos sociais para reivindicar suas demandas. A análise foi organizada segundo quatro esferas, partícipes do engajamento dos familiares na Rede, são elas: as narrativas, a resistência, a maternidade e o gerenciamento das emoções. A primeira análise focaliza a estrutura das histórias, chamadas aqui de narrativas de engajamento. Emprega elementos da teoria laboviana, em interface com os estudos que contemplam os aspectos socioculturais e interacionais que fundamentam a prática discursiva. A segunda trata dos mecanismos discursivos mobilizados pelos familiares na elaboração de emoções como a dor de perder um filho; se debruça sobre os sistemas de coerência acionados junto ao contexto macrossocial nas narrativas, isto é, sobre o modo como as relações de sequencialidade e causalidade construídas nessas histórias relacionam-se a outros discursos culturalmente consagrados. A terceira observa como a categoria mãe é acionada nas narrativas. A quarta e última análise se detém nos eventos catalizadores que impulsionam o engajamento e o ativismo sustentado dos familiares na Rede, investigando como o chamado choque moral é construído nas histórias. Em suma, o trabalho analítico sugere a existência de um padrão que organiza as narrativas de engajamento e identifica dois mecanismos discursivos entrelaçados: i) a dupla transição entre uma pessoalização x coletivização da dor de perder um filho e da experiência com a violência policial – de modo que o sofrimento individual de uma mãe se transforma no sofrimento do grupo e a caracterização do policial responsável pela morte se transforma em denúncias à atuação da corporação como um todo; ii) a racionalização dos eventos que levaram à morte do filho por meio de sistemas de coerência que operam com versões simplificadas do racismo e da teoria da Necropolítica. Nesse sentido, as narrativas se caracterizam como práticas de resistência e denúncias ao racismo que permeia diversas instituições do Estado; e práticas de reexistência na medida em que as mães, ao praticarem o luto público, humanizam as vítimas da violência policial e reenquadram as mortes nas favelas não como casos isolados de má conduta de policiais, mas sim como parte de uma lógica de atuação do Estado. Rio de Janeiro is the state with the highest number of homicides due to police brutality – often as a result of incursions related to the war on drugs. In 2019, for instance, 1.808 deaths were classified as homicide due to police intervention, a classification given when a police officer kills in self-defense. It also gives rise to a series of procedures which primarily result in the archiving of the cases without a proper investigation, or the police officers being absolved of murder, or any other crime for that matter. Such injustice leads the victims mothers to unite – engaging in social movements to fight for justice, seek clarification of the circumstances in which their children died, as well as to demand punishment of those involved. This study aims to investigate how grief is converted into political struggle as these mothers engage in social movements, more specifically in the Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência. Narratives enunciated by these mothers in public protests organized by the Rede are considered the privileged loci for analysis. Based on a micro-perspective, this analysis is guided by a qualitative-interpretative approach, and draws on studies which consider narrative discourse a way of constructing social life as well as a political tool used by social movements to demand justice. The macro-social context in which the deaths of Black people are placed also informs the analytical process which is organized around four spheres that are part of the mothers engagement in social movements: the narratives told at the protests, political resistance, the concept of maternity and the management of emotions. The first analysis describes the structure of the stories – referred to here as narratives of engagement –by employing elements from Labovian theory in tandem with theories which accentuate the interactional and sociocultural values underpinning narrative practice. The second analysis observes the discursive resources brought to bear on the narratives of the victims relatives in their process of managing emotions as pain. The analysis focuses on their systems of coherence, i.e., whether sequential ordering and causality relations constructed in these stories relate to culturally established discourses. The third analysis aims to understand how the categorization of “mother” is elaborated in the stories. The fourth and final analysis is focused on catalysing events that drive the engagement and sustained activism of these relatives in the Rede, investigating how moral shock is constructed in these narratives. In sum, the analytical work suggests the existence of a recurrent pattern that organizes narratives of engagement. Two discursive mechanisms interact with each other in the narratives: i) a double transition between personal experience with police brutality and the collective experience of those who have lost their children – this means that individual pain becomes collective pain, and the specific characterization of one police officer is transformed into grievances with respect to the corporation as a whole; ii) the rationalization of events leading to the death of their children by using coherence systems that operate with simplified versions of racism and the theory of Necropolitics. In a sense, these narratives of engagement are characterized as practices of resistance and work to denounce the racism that permeates several State s institutions. As well as practices of re-existence. By means of publicly mourning their children, these mothers humanize the victims of police brutality reframing these deaths not as isolated cases of police misconduct, but as part of a system.
Databáze: OpenAIRE