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A arte espacial é uma realidade ainda pouco divulgada, seja ao nível da produção artística, seja ao nível dos museus. A partir de uma análise assente numa metodologia de revisão bibliográfica, este artigo pretende refletir criticamente sobre o entrosamento entre arte espacial e arquiteturas espaciais. Ou seja, explora a interligação entre dois cenários arquitetónicos espaciais, explorando aspetos de exibição artística e as condições inóspitas extraplanetárias. O primeiro prende-se com a Estação Espacial Internacional, uma arquitetura laboratorial e de habitação, que recebeu os projetos artísticos Sojouner 2020 e Moon Gallery (2022). A partir das teorias de heterotopia e heterocronia de Michel Foucault estabelecemos uma interligação baseada na relação espácio-temporal marcada pela transitividade e pela potencial transformação de obras artísticas biotecnológicas. A análise de outras obras de teor crítico, considerando o conceito de heterotopia de Kevin Hetherington, permitiu perceber a Estação Espacial Internacional como lugar onde o biopoder opera juntamente com a sua crítica. O outro cenário é hipotético e refere-se às arquiteturas futuristas de galerias de arte espaciais do programa Tate in Space (2000) da Tate Modern. A possível interligação suprarreferida foi analisada a partir da teoria das cinco “atmosferas” (espaço físico, geográfico, sensorial, social e individual) do Livro de Princípios (no original Book of Principles) que a artista Kristen Johannsen (2016) elaborou para aplicação em obras artísticas a serem enviadas para o espaço sideral. Neste contexto demonstramos a articulação entre as características arquitetónicas e as “atmosferas”, evidenciada pela análise de aspetos psicossociais, espácio-temporais, artísticos e curatoriais que um ambiente extraplanetário extremo suscita. A temática analisada é relevante porque nos leva a refletir sobre como circunstâncias ambientais distintas implicam diferentes modos de expor e comunicar. Globalmente, este artigo contribui para trazer maior conhecimento sobre uma realidade pouco estudada, permitindo, por sua vez, abrir pistas de investigação sobre outros espaços de exibição artística e as suas práticas curatoriais. Space art is still not well known, either in artistic production or from the perspective of museums. From an analysis based on a literature review methodology, this article intends to critically reflect on the relationship between spatial art and spatial architectures. It analyses the connection between two spatial architectural settings, exploring aspects of artistic display and the inhospitable extraplanetary condition. The first scenario is related to the International Space Station, a laboratory and housing architecture, which received the artistic projects Sojouner 2020 and Moon Gallery (2022). From Michel Foucault's heterotopia and heterochrony, we establish an interconnection based on the space-time relationship marked by transitivity and the potential transformation of biotechnological artistic works. The analysis of other works of critical content, considering Kevin Hetherington's concept of heterotopia, allowed us to perceive the International Space Station as a place where biopower operates along with its critique. The other scenario is hypothetical and refers to the futuristic art gallery architectures of the Tate in Space program (2000) of the Tate Modern. The possible interconnection was analysed from the theory of the five “atmospheres” (physical, geographical, sensory, social, and individual space) from the Book of Principles that artist Kristen Johannsen (2016) elaborated for artistic works to be sent into outer space. In this context, we demonstrate the connection between architectural features and “atmospheres”, evidenced by the analysis of psychosocial, spatiotemporal, artistic, and curatorial aspects that an extreme extraplanetary environment raises. The subject matter relevancy stems from the different environmental circumstances that imply different ways of exhibiting and communicating. Overall, this article expands on a scarcely studied phenomenon, allowing the development of future research avenues about other art exhibition spaces and their curatorial practices. |