Sobre a emergência das construções com 'mas' e seu estatuto discursivo na fala de uma criança

Autor: Lima, Gisele, 1983
Přispěvatelé: Figueira, Rosa Attié, 1948, Guimarães, Eduardo Roberto Junqueira, Castro, Maria Fausta Pereira de, Silva, Adilson Ventura da, Campos, Claudia Mendes, Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem, Programa de Pós-Graduação em Linguística, UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Rok vydání: 2021
Předmět:
Zdroj: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
instacron:UNICAMP
DOI: 10.47749/t/unicamp.2015.956552
Popis: Orientador: Rosa Attié Figueira Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem Resumo: "Construções complexas" tem figurado como tema nos estudos de Aquisição da Linguagem sob diferentes perspectivas teóricas. Neste trabalho, a partir de uma posição marcadamente interacionista, que elege o diálogo como unidade de análise, realizamos um estudo de um tipo de construção estrutural e discursivamente complexa que precocemente emerge na fala da criança ¿ as construções com 'mas'. Interessa-nos, particularmente, observar a complexidade dessa estrutura naquilo que ela pode revelar, tanto do processo de aquisição da linguagem, como da relação do sujeito (em constituição) com a sua própria fala, com o outro e com a língua. Essa partícula, que na gramática tradicional é classificada como uma conjunção coordenativa adversativa, foi amplamente estudada por Ducrot e Anscombre no interior da teoria da Argumentação na Língua, sendo descrita como um operador argumentativo de contraorientação. E é justamente a esta abordagem, sobretudo pela sua concepção notadamente estruturalista de argumentação e de língua, que recorremos para tratar do corpus desta pesquisa; constituído por episódios de fala de uma criança ¿ R ¿ com idade entre 2 e 4;9 anos, em ambiente natural de interação com o adulto. Nossas análises mostraram que, embora sejam variadas as ocorrências do mas, algumas regularidades podem ser observadas, como a forte presença do encadeamento "mas eu quero", em situações de visível intransigência da criança em relação a um pedido ou ordem da mãe. Assim, percebemos que o início dos processos argumentativos na fala de R é fortemente marcado por formulações voluntariosas, que começam pela manifestação direta de sua vontade, e o mas é o articulador dessa relação. Nesse sentido, pudemos aproximar essas construções aos enunciados do tipo "porque eu quero", uma vez que evidenciam o mesmo funcionamento argumentativo, no sentido de que marcam a inegável presença do locutor naquele dizer. Considerando todo o corpus de R, fica muito claro como determinados encadeamentos com mas são postos quando o que está em jogo é a realização de um desejo da criança; o que muda de um episódio a outro é aquilo que é mobilizado como argumento ¿ a observação de um estado de coisas, em alguns casos; a vontade do falante, em outros. Por fim, podemos afirmar que o percurso da criança a constituir-se falante é marcado por aproximações e distanciamentos da fala do adulto, convergências e divergências; uma das formas de ela marcar seu posicionamento distinto ou justificar os seus atos se dá pelas estruturas com mas, cujo funcionamento está inscrito na língua. Para nós, a emergência dessas construções revela uma nova posição da criança tanto em relação à língua quanto em relação ao outro. Posição esta que lhe permite valer-se de argumentos, se inscrevendo em sentidos estabilizados na sociedade e trazendo-os para o seu mundo infantil Abstract: "Complex sentence construction" has appeared as a theme in Language Acquisition studies under different theoretical perspectives. In this research, starting from a distinctly interactionist position, which elects the dialogue as the analysis unit, we study a type of structural and discursively complex sentence construction that prematurely emerges in the child speech ¿ the sentences with 'but'. We are especially interested in observing the complexity of this structure within what it can reveal as far as the language acquisition process, and the relationship of the subject (in formation) with her own speech, with the "other", and with the language. This portion, classified as adversative coordinating conjunction in the traditional grammar, was extensively studied by Ducrot and Anscombre in the theory of Argumentation within Language (Argumentation dans la Langue), described as an opposite direction argumentative operator. And it is precisely this approach, mostly because of its remarkably structuralist conception of argumentation and language, that we resort on to address the corpus of this research, which consists of a child¿s speech episodes ¿ R ¿ aged between 2 years old and 4 years 9 months old, in a natural child-adult interaction environment. Our analysis have shown that, even though the occurrences of but were varied, we could observe some regularities, such as the strong incidence of the chaining "but I want to", in situations in which the child¿s intransigence is evident regarding a request or command from the mother. Thus, we realize that the beginning of the argumentative process in R¿s speech is strongly marked by willful wording, which starts by the direct expression of her will, where but is the articulator in the relationship. Accordingly, we were able to associate these constructions to statements such as "because I want to", since they highlight the same argumentative functioning, in the sense that they mark the undeniable presence of the speaker (locuteur) in that enunciation (énonciation). Considering R¿s corpus, it is clear how certain chains with but are used when the accomplishment of a child¿s wish is at stake; what changes between one episode and another is what is used as an argument ¿ observation of the condition of the events, in some cases; the speaker¿s will, in others. Lastly, we can claim that the child¿s route to establishing herself as a speaker is characterized by proximity and distance from the adult speech, convergence and divergence; one of the ways she shows her opposite position or to justify her actions happens through structures with but, which has its operation inscribed in the language. For us, the rise of these sentence constructions reveal a new position of the child both in regards to the language and to the "other". This position allows her to benefit from arguments, registering herself in meanings established in the society and bring them to her children¿s world Doutorado Lingüística Doutora em Linguística CAPES
Databáze: OpenAIRE