Por uma vida sem barragens: corpos, território e o papel da autodeterminação na desnaturalização da violência

Autor: Léa Tosold
Rok vydání: 2020
Předmět:
Zdroj: Revista de Antropologia, Vol 63, Iss 3 (2020)
Revista de Antropologia; v. 63 n. 3 (2020); e178182
Revista de Antropologia; Vol. 63 No. 3 (2020); e178182
Revista de Antropologia; Vol. 63 Núm. 3 (2020); e178182
Revista de Antropologia; Vol. 63 No 3 (2020); e178182
Revista de antropologia (São Paulo. Online)
Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
ISSN: 1678-9857
0034-7701
DOI: 10.11606/1678-9857.ra.2020.178182
Popis: Partindo do emblemático contexto de (r)existência munduruku e ribeirinha à tentativa de imposição das barragens de São Luiz e Jatobá, na bacia do rio Tapajós, entre 2013 e 2015, procuro traçar uma perspectiva analítica capaz de apreender como o caráter substantivo da lógica de progresso/desenvolvimento, identificada com o Estado, vem a tomar corpo nos embates cotidianos, envolvendo diferentes atores sociais. Identifico dois modos distintos por meio dos quais tal lógica opera: o rumor — que, como coloca Veena Das, caracteriza a efetivação do que é apenas potencialidade —, e a não performatividade — em que, diversamente, de acordo com Sara Ahmed, a enunciação vem a substituir a ação. Conforme sugiro, a persistência dos povos munduruku e ribeirinho em seu próprio processo de autodeterminação cole(a)tiva mostrou-se fundamental a fim de possibilitar a desnaturalização da violência subjacente à lógica de progresso/desenvolvimento, expondo sua intencionalidade antes de que o megaempreendimento viesse a se tornar “fato consumado”, de forma a permitir o florescimento de modos específicos de (r)existências que lhe fizessem frente, mesmo sob enorme disparidade em termos de correlação de forças. Departing from the emblematic munduruku and riverside peoples resistance context in face of the systematic attempts of imposing the São Luiz and Jatobá dams in the Tapajós river basin, Amazonia, between 2013 and 2015, I aim at drawing an analytical perspective able to grasp how the substantive character of the logic of progress/development — identified with the state — is embodied in ordinary life by multiple social actors. I identify two different modes through which this logic operates: rumor — which, as pointed out by Veena Das, characterizes the realization of what is only potentiality —, and non-performative – in which, according to Sara Ahmed, the speech act comes to stand in for the effects. I suggest that the persistence of the munduruku and the riverside peoples in their own self-determination processes was fundamental in order to enable the denaturalization of violence underlying the logic of progress/development, and so to expose its intentionality before the mega-enterprise became a fait accompli, allowing specific fortunate modes of resistance to flourish, even under enormous power balance disparities.
Databáze: OpenAIRE