Cortar ou investir? Ações estratégicas para enfrentar a crise provocada pela Covid-19

Autor: Heidy Rodriguez Ramos, José Eduardo Storopoli, Ivano Ribeiro, Claudia Brito Silva Cirani, Rosiele Fernandes Pinto
Rok vydání: 2020
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Zdroj: Revista Ibero-Americana de Estratégia; Vol 19, No 3 (2020): July/Sept.; 1-5
Revista Ibero Americana de Estratégia-RIAE
Revista Ibero-Americana de Estratégia (RIAE)
instacron:RIEOEI
ISSN: 2176-0756
Popis: A Revista Ibero-Americana de Estrategia tem se mostrado em sintonia com a atual crise provocada pela COVID-19 e os impactos causados tanto na pesquisa como nas organizacoes. No editorial da edicao anterior sugerimos temas de pesquisa bem como as diretrizes eticas que os pesquisadores devem adotar ao pesquisar os efeitos da pandemia. Nesse editorial, nosso foco esta em entender como historicamente as empresas responderam a periodos de crise e de que forma essas experiencias podem direcionar as empresas para o enfrentamento da crise COVID-19. Pouca pesquisa tem sido realizada sobre estrategias que podem ajudar as empresas a sobreviverem a uma recessao, progredirem durante uma recuperacao de crescimento lento e estarem prontas para vencer quando os bons tempos retornarem (Gulati, Nohria, & Wohlgezogen, 2010). Isso nos remete a necessidade de compreendermos quais acoes as empresas podem empreender para responder efetivamente aos periodos de crise, visto que os estudos no campo da estrategia estao mais focados aos periodos de crescimento. Crise provocada pela COVID-19 e o impacto nas empresas Ao longo da historia, as economias tem experienciado crises de varias naturezas, essas crises tem em comum o potencial devastador individual, social, economico e natural, como o colapso de empresas e industrias, perdas massivas de empregos, precariedade e danos naturais (Wenzel, Stanske, & Lieberman, 2020). A crise provocada pela COVID-19 exigiu dos governos medidas severas de isolamento social, que consequentemente ameacaram a sobrevivencia das empresas em todo o mundo. Dentre os diversos setores afetados, destacam-se: o setor aereo, varejo, turismo, esportes e eventos (Krishnamurthy, 2020). No Brasil, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE, 2020) sobre o impacto da Covid-19 apontam que em 2020, ate a segunda quinzena do mes de agosto, 47,6% das empresas haviam tido dificuldades de acesso aos fornecedores de insumos e materia-prima, prejudicando consideravelmente suas atividades. Sobre a capacidade de honrar os compromissos, 44,9% passaram por problemas financeiros para pagamentos relativos aos tributos, fornecedores, salarios, alugueis e energia eletrica. Apesar da crise provocar, em algumas situacoes, certa inercia organizacional, os dados do IBGE apontam que mesmo com as adversidades provocadas pela pandemia, 30,6% das empresas adotaram algum tipo de medida, como: passou a comercializar novos produtos ou servicos; alterou o metodo de entrega, com a entrada no e-commerce; adiou o pagamento de impostos; conseguiu linha de credito emergencial para pagamento da folha salarial; adotou trabalho domiciliar; antecipou ferias dos funcionarios; realizou campanhas de informacao e prevencao; e adotou medidas de higiene. Isso mostra que as empresas realizaram algum tipo de movimento para reagir a crise, porem eles se caracterizam mais como acoes emergenciais, sinalizando a necessidade da adocao de acoes estrategicas mais planejadas e efetivas. Como as empresas experienciam as crises? Encontrar a estrategia adequada para as empresas e sempre desafiador e quando se trata de um periodo de turbulencia esse desafio toma proporcoes mais complexas. Durante uma recessao, as empresas enfrentam um dilema entre investir para aproveitar as oportunidades emergentes ou reter os recursos financeiros para se proteger contra a crise (Nason & Patel, 2016). Ha uma forte tendencia de as empresas recorrerem a acoes de retrenchment , que se refere a acoes de recuperacao de curto prazo orientadas para a eficiencia, como downsizing , reducao de custos, venda de ativos e desinvestimento de negocios. No entanto, alguns estudos tem mostrado uma acao inversa a essa, sendo investir uma alternativa para lidar com a crise. Mann e Byun (2017) analisaram as estrategias de retrenchment e investimento dos varejistas nos EUA em resposta a Grande Recessao nos anos compreendidos entre 2008 a 2011 e encontraram mais relatos de investimento do que retrenchment . Nesse estudo foram observados: fechamentos de lojas e falencias como estrategias de retrenchment; e a expansao de mercado, desenvolvimento de produtos, desenvolvimento de servicos, aquisicoes, parcerias estrategicas e responsabilidade social corporativa como estrategias de investimento. O estudo constatou que os varejistas que conseguiram equilibrar os esforcos de retrenchment com as oportunidades de investimento estavam melhor posicionados para enfrentar a recessao, incluindo exemplos de sucesso de empresas como Starbucks, Macy's e Walmart. Por exemplo, a Starbucks explorou os recursos existentes leiloando ativos nao essenciais, fechou lojas e, simultaneamente, investiu em energia renovavel e explorou novas oportunidades de investimento, abrindo quase 1000 lojas no exterior. A recessao tambem pode ser um bom momento para empreendedores desenvolverem novas formas de fazer as coisas, estimulando a adocao de novas tecnologias, segundo defende o estudo sobre a crise financeira global de Hausman e Johnston (2014). De acordo com esse estudo, a historia apoia a nocao de que o aumento da pressao economica geralmente alimenta solucoes criativas que estimulam o crescimento economico, por exemplo, a grande depressao da decada de 1930 foi uma das epocas mais produtivas do seculo XX. Durante esse tempo, as pessoas adotaram muitas das tecnologias desenvolvidas na decada de 1920 para alcancar melhor produtividade. Possiveis acoes para o enfrentamento da crise Vimos que as empresas que combinaram reducao de custos e investimento promoveram uma melhor resposta a crise. Gulati, Nohria e Wohlgezogen (2010) defendem que as empresas que dominam o equilibrio entre cortar custos para sobreviver hoje e investir para crescer amanha, a partir de uma combinacao de movimentos defensivos e ofensivos, tem ganhos apos uma recessao. Esses autores classificaram as abordagens de gerenciamento das empresas durante a recessao em quatro tipos: empresas com foco na prevencao, as quais fazem movimentos principalmente defensivos e estao mais preocupadas do que seus concorrentes em evitar perdas e minimizar os riscos de declinio; empresas com foco em promocao, as quais investem em movimentos ofensivos; empresas pragmaticas, as quais combinam movimentos defensivos e ofensivos; e por ultimo empresas progressistas, as quais atingem uma combinacao ideal de defesa e ataque. Portanto, a adequacao entre os cortes necessarios para a manutencao das operacoes e os investimentos para o aproveitamento das novas oportunidades de negocio podem ser a saida para o enfrentamento do periodo de crise. Em uma edicao especial, publicada no Strategic Management Journal , Wenzel, Stanske e Lieberman (2020) discutiram artigos que fornecem insights sobre as possiveis respostas estrategicas das empresas a crise, tendo identificado quatro tipos de respostas: 1- Saida, em algumas situacoes a empresa pode encerrar suas atividades como resposta a crise, o fechamento da empresa pode ser nesse caso uma solucao; 2- Retrenchment , apesar de ser apontada como uma estrategia bastante utilizada, os autores chamam atencao para a necessidade de respostas alternativas a essa, visto que o r etrenchment pode causar a erosao dos recursos, especialmente quando uma crise dura por um longo periodo de tempo. Sua adocao sem um planejamento pode provocar mudancas bruscas e inapropriadas para o negocio; 3- Perseverar, essa acao pode apresentar uma aparente zona de conforto diante da crise e contribuir para sustentar a sobrevivencia da empresa no medio prazo. No entanto, sera dificil, senao impossivel, implementar respostas satisfatorias se uma crise durar muito tempo; 4- Inovacao, a realizacao da renovacao estrategica pode ser uma resposta efetiva a crise. De fato, a inovacao tem se apresentado como uma possivel alternativa para as empresas enfrentarem a natureza complexa da crise desencadeada pela COVID-19. Nacoes em todo o mundo se voltaram para iniciativas sociais que refletem os principios de inovacao social. Com seu carater colaborativo, a inovacao social pode ajudar a construir um futuro mais participativo e inclusivo. Acoes neste sentido podem auxiliar tanto para a melhoria do desempenho economico como no atendimento de demandas da sociedade (Pol & Ville, 2009). Alem das acoes apontadas, as empresas devem considerar o cuidado com a saude, a qual se tornou parte integrante das atividades e o home office que tem se apresentado como uma opcao para a reducao de custos (Krishnamurthy, 2020). E importante destacar que a implementacao de toda e qualquer resposta a crise vai depender da agilidade com que as empresas irao responder. O desenvolvimento de praticas, tecnicas e metodos de trabalho que permitam respostas rapidas devem ser acoes consideradas no direcionamento dos negocios, assim como a adocao de mecanismos que facilitem a adaptabilidade organizacional as complexas demandas sociais, interesses divergentes e cenarios incertos (Janssen & van der Voort, 2020). A crise e uma adversidade ambiental, porem ela pode ser propulsora para novos negocios, processos, produtos ou servicos. Para isso, as empresas demandam direcionamento estrategico, onde o conselho, a governanca e os gestores exercem papel central. Enquanto as equipes gerenciais se concentram em tomar decisoes rapidas para proteger os funcionarios, atender as necessidades dos clientes e se comunicar com os stakeholders , os conselhos precisam equilibrar decisoes de resposta a crise, com o pensamento alem dos desafios imediatos (Hirt, Huber, Lund, & Spielmann, 2020). Esperamos que esse editorial, alem de ter apontado possiveis acoes que empresas podem adotar no enfrentamento da crise provocada pela COVID-19, tambem possa inspirar estudos futuros sobre o papel do conselho e dos gestores. Ampliar o debate sobre esses temas contribui para um melhor direcionamento as empresas.
Databáze: OpenAIRE