Escravidão e liberdade no Caribe Francês

Autor: Canelas, Leticia Gregorio, 1977
Přispěvatelé: Slenes, Robert Wayne Andrew, 1943, Castro, Hebe Maria Mattos de, Grinberg, Keila, Machado, Maria Helena Pereira Toledo, Pirola, Ricardo Figueiredo, Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História, UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Rok vydání: 2021
Předmět:
Zdroj: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
instacron:UNICAMP
DOI: 10.47749/t/unicamp.2017.1009850
Popis: Orientador: Robert Wayne Andrew Slenes Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Resumo: Na Martinica, principal colônia francesa no Caribe, depois de São Domingos/Haiti, na primeira metade do século XIX, as mulheres afrodescendentes estavam em maior número nas lavouras, há indícios de que elas que cultivavam as roças de víveres ¿ cuja produção era a segunda em maior quantidade de terras e de escravos, depois da cana-de-açúcar ¿, trabalhavam como costureiras, lavadeiras, domésticas, marchandes, eram essenciais às suas famílias, atuavam como lideranças em suas festas e rituais. Contudo, em todo o Caribe Francês, ao tratar da questão da alforria, várias fontes produzidas entre os séculos XVIII e XIX exprimiram um esteriótipo segundo o qual a maioria das liberdades concedidas nas colônias foram acordadas às mulheres escravizadas que eram "concubinas dos brancos" e aos filhos dessas relações. E alguns historiadores que abordam a questão reafirmam essa mesma conclusão. Porém, nenhum estudo demonstrou de fato a expressividade dessa situação, a não ser a aparente reprodução do discurso da elite de colonos brancos. Este é o problema central que orienta este trabalho de pesquisa ao buscar compreender os processos de conquista da alforria nos últimos anos de escravidão nas Antilhas Francesas, analisando sobretudo as experiências vivenciadas pelas mulheres escravizadas e em vias de liberdade na Martinica. Durante a Monarquia de Julho (1830-1848), a conquista da alforria no Caribe Francês tornou-se muito significativa devido às transformações políticas e jurídicas na França metropolitana e nas colônias e, ainda, à percepção das pessoas escravizadas e libertas sobre estas mudanças. Diferentemente de qualquer período anterior, uma grande quantidade de cartas de alforria oficiais foram emitidas pela administração colonial. Assim, ao analisar esses processos de conquista da liberdade, a expressão demográfica desse fenômeno, a legislação e debates políticos em torno da alforria e as tensões entre "brancos" e "livres de cor" nas colônias francesas e na metrópole acerca de direitos e emancipação, meu objetivo foi buscar os indícios do quanto as mulheres afrodescendentes foram protagonistas das estratégias e projetos de liberdade, individuais e coletivos. Essas análises foram realizadas a partir de uma vasta documentação, que inclui relatos de viajantes, textos de abolicionistas e de senhores de escravos, textos legislativos, correspondências e relatórios de autoridades coloniais e metropolitanas, documentação notarial, periódicos oficiais e registros do estado civil da Martinica, fontes pesquisadas sobretudo nos Archives Nationales d¿Outre Mer e na Biblioteca Nacional da França. Assim, foram analisados os contextos históricos que envolveram a conquista da liberdade, mesmo que precária, por homens e mulheres, pensando a "alforria" nas sociedades escravistas como uma questão essencial para se analisar a história da escravidão nas Américas e no Caribe. Nestes contextos, observo sobretudo as histórias das mulheres afrodescendentes na Martinica, abordando questões em torno de classe, raça e gênero, sob a perspectiva da história social. Dessa forma, foi possível ressaltar suas experiências e de suas famílias e demonstrar a fragilidade do argumento o qual afirma que seu acesso à alforria ocorreu predominantemente por meio de suas relações afetivas (e desiguais) com os homens brancos, como se esse fosse o principal meio pelo qual as mulheres negras pudessem construir seus caminhos para a liberdade Abstract: In Martinique, the main French colony in the Caribbean after São Domingos / Haiti, in the first half of the 19th century, Afro-descendant women were in greater numbers in the plantations, there are indications that they were cultivating food crops ¿ in which the production was the second largest in quantities of land and of slaves, after sugar cane -, worked as seamstresses, washerwomen, domestic workers, marchandes, were essential to their families and acted as leaders in their celebrations and rituals. Nevertheless, throughout the French Caribbean, when dealing with the issue of manumission, various sources produced between the eighteenth and nineteenth centuries expressed a stereotype according to which most of the freedoms granted in the colonies were accorded to enslaved women who were "concubines of white men" and to the children of these relationships. And some historians who approach the question reaffirm this same conclusion. However, no study has actually demonstrated the expressiveness of this situation, other than the apparent reproduction of the elite white colons' discourse. This is the central problem that guides this research work in seeking to understand the processes of conquest of manumission in the last years of slavery in the French Antilles, analyzing above all the experiences lived by women either enslaved and in the process of freedom in Martinique. During the July Monarchy (1830-1848), the conquest of manumission in the French Caribbean became very significant due to the political and legal transformations in metropolitan France and in its colonies, and also to the perception of the enslaved and freed people about these changes. Unlike any previous period, a large number of official manumission papers were issued by the colonial administration. Therefore, in analyzing these processes of conquering freedom, the demographic expression of this phenomenon, the legislation and political debates surrounding the manumission and the tensions between "white" and "free colored" people in the French colonies and in the metropolis about rights and emancipation, my objective was to seek the indications of how Afro-descendant women were protagonists of individual and collective strategies and projects of freedom. These analyses were carried out on the basis of extensive documentation, including travelers' accounts, abolitionist and slave-master texts, legislative texts, correspondences and reports from colonial and metropolitan authorities, notary documentation, official periodicals, and civil status records from Martinique, sources researched mainly in the Archives Nationales d'Outre Mer and in the National Library of France. Thus, historical contexts were analyzed that involved the conquest of freedom, even if precarious, by men and women, thinking of "manumission" in slave societies as an essential question to analyze the history of slavery in the Americas and the Caribbean. In these contexts, I particularly look at the stories of Afro-descendant women in Martinique, approaching issues around class, race, and gender, from the perspective of social history. In this way, it was possible to emphasize their experiences and those of their families and to demonstrate the fragility of the argument which asserts that their access to manumission occurred predominantly through their affective (and unequal) relations with the white men, as if it were the main means by which black women could build their paths to freedom Doutorado História Social Doutora em História CNPQ 140166/2012-2 CAPES PDSE 6342/13-2
Databáze: OpenAIRE