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Introducao A combinacao de doxorrubicina, bleomicina, vinblastina e dacarbazina (ABVD) representa a principal opcao de tratamento em primeira linha para o Linfoma Hodgkin classico (LH). Desde 2018, o desabastecimento de bleomicina no Brasil tem trazido consequencias graves aos pacientes com LH. No âmbito da medicina privada, instituicoes tem feito o uso de A+AVD, esquema no qual a bleomicina e substituida por brentuximabe-vedotina, ou importado a bleomicina de forma independente. Para diversas instituicoes publicas, entretanto, estas opcoes nao sao acessiveis. Objetivo Avaliar a seguranca e a eficacia da combinacao AEVD (doxorrubicina; etoposideo, em substituicao a bleomicina, na dose de 100 mg/m2; vinblastina e dacarbazina) para tratamento de LH em primeira linha, nos dias 1 e 15 de ciclos de 28 dias. Metodos Realizamos estudo clinico aberto nao-randomizado para avaliar o regime AEVD como tratamento de primeira linha em pacientes com diagnostico recente de LH no Hospital Municipal Sao Jose em Joinville, Brasil. Resultados Vinte e cinco pacientes com mais de 18 anos e diagnostico de LHc entre junho e novembro de 2020 foram incluidos. Quatorze pacientes (56%) eram homens, com mediana de idade de 27 anos (variando de 18 a 66 anos). A maioria dos pacientes tinham doenca Estagio II (60%, n = 15), tinham sintomas B (56%, n = 14) e lactate-desidrogenase (LDH, 52%, n = 13). Para estagios III-IV (n = 5), 3 pacientes apresentaram IPS alto risco (escore >2; 60%). Para doenca localizada (n = 20), alto risco conforme GHSG foi observado em 16 pacientes (n = 80%). Todos os pacientes passaram por 3 a 6 ciclos de quimioterapia e nao se observou evento adverso com necessidade de internacao hospitalar, interrupcao ou descontinuacao de tratamento. A realizacao de PET-CT ocorreu exclusivamente fora da nossa instituicao. Oito pacientes tiveram acesso a PET-CT no interim, todos com escore Deauville de 1-3. A taxa de resposta global foi de 96%, com um paciente apresentando progressao da doenca apos 5 ciclos. Sete pacientes tiveram avaliacao de final de tratamento (FT) apenas com TC, com 5 respostas completas (RC) e 2 respostas parciais (RP), com ambos os pacientes RP mantiveram remissao apos 10 e 12 meses. Avaliacao ao FT com PET-CT (n = 18) resultou em DS 1-3 em 72% (n = 13), 4 em 22% (n = 4) e 5 em 6% (n = 1). Todos os 5 pacientes DS 4-5 foram submetidos a biopsia apos avaliacao FT, com confirmacao de LH recidivado ou refratario (RR) em 4 casos (mulher de 22 anos, estagio IV, alto risco com doenca progressiva; homem de 65 anos, estagio III, baixo risco, com recidiva 11 meses apos FT; homem de 26 anos, estagio II, alto risco com recidiva 6 meses apos FT; mulher de 25 anos, estagio II, alto risco com recidiva 4 meses apos FT). Dois pacientes LH RR (50%) tiveram atraso de mais de 30 dias no tratamento devido a fatores psicossociais ou financeiros secundarios a pandemia Covid-19. Todos os pacientes LH RR tiveram acesso a terapia de resgate. Com mediana de seguimento de 16 meses (variando de 8 a 36 meses), nenhuma morte foi registrada e a probabilidade de sobrevida livre de progressao foi de 66% (IC95%: 72%-100%). Conclusoes A escassez de quimioterapicos tem sido um problema recorrente em todo o mundo, e e mais evidente em medicacoes citotoxicas sem substituicoes validadas, como e o caso da bleomicina. O uso do esquema AEVD para tratamento de LH recem-diagnosticado parece ser seguro, eficaz e factivel, em uma populacao composta principalmente por pacientes de alto risco. |